quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Entrevista da Chiara ao Rioma Brasil!

Após os últimos shows em Milão, a Chiara concedeu uma entrevista à Romina Ciuffa, do site RiomaBrasil, onde falou dos shows, da volta à Itália, do próximo álbum e de 2014. Acompanham a entrevista uma galeria de fotos e um vídeo de momentos dos shows no Blue Note. 

Abaixo, a tradução do Sofà da entrevista originalmente em italiano:



E em torno de Chiara Civello girava o mundo...A entrevista
por Romina Ciuffa

21 de dezembro, solstício de inverno. A noite mais longa do ano, mesmo quando o nascer e o pôr do sol mudam de compromissos e dimensões temporais que parecem se tridimensionar em um espaço que une Milão, NYC e Rio de Janeiro. A noite mais longa porque canta, não uma, mas duas vezes, Chiara Civello, a Norah Jones italiana, orgulho do jazz e da música pop, romana, nova iorquina de adoção primeira, depois carioca, mas simplesmente cidadã de onde estiver, geminiana agitada e no último ano habituada a afinar sua própria voz entre as praias de Ipanema e Leblon, na floresta da Tijuca, sob um Cristo observador, e nas favelas da Gávea. 

É no Rio - cidade "bossadependente" - que com sua abordagem jazzistíca (a bossa não é senão um pouco o jazz brasileiro? Definida tantas vezes como uma mistura de jazz e samba de certa maneira simplificada por estudiosos e jazzistas) diversifica ainda mais o jazz de Chiara, aprendido durante um longo período, maior ainda do que o arco da Lapa carioca, a Lapa do samba: um arco que de Monti de Roma, na sua Saint Louis College of Music, conduz direto para a Berklee College em Boston. Uma MPB (música popular brasileira) que sabe de curiosidade e aprendizado, de Roma, Nova York, Sicilia, Ginostra e todas as cidades de Chiara; que sabe de harmonização jazz e uma preparação completa mas nunca satisfeita, sempre continuando a pesquisa, e de uma voz que, como poucas, podem se dar ao luxo de escrever com Ana Carolina, improvisar "Moon River" ao piano, interpretar do seu jeito Jimmy Fontana ou Sergio Endrigo, na interpretação, com um nó na garganta que toca violão e faz fechar os olhos até quando o público do Blue Note - até mesmo os espanhóis que reservaram as mesas especialmente para vê-la - não hesita: "Brava Chiara!", e ela: "...abri os olhos para olhar ao meu redor, e ao meu redor girava o mundo como sempre"...e em torno dela gira o mundo, como sempre.

Neste Blue Note, que a acolhe logo após ter recebido, na primeira noite, uma forte Rosàlia de Souza - aquela anterior brasileira de grande porte que esteve no mesmo palco e seguindo os passos da Bossa Nova - Chiara Civello olha para a corda de seu arco, de onde a flecha parte, e não para o alvo, porque sua ambição não está na mira, mas na força. Rioma entrevista Chiara.



Romina Ciuffa entrevista Chiara Civello

Hoje, depois de uma longa permanência no Brasil e novos compromissos nos EUA, retorna com um voo de NY, tua primeira pátria de fato, para fazer não um, mas dois shows na mesma noite, no Blue Note Milano, depois de tantíssimas datas no Brasil: sensação...o que achou do público italiano?

Tenho viajado muito ultimamente e aterrisar no Blue Note foi maravilhoso. Adoro o Blue Note e todo ano não posso perder! Me tratam sempre muito bem e devo dizer que achei o público italiano extramamente quente, totalmente atento a mim da primeira até a última nota. Uma noite inesquecível.

Que repertório está fazendo para essa data italiana do fim de 2013, um ano que te viu muito brasileira?

O repertório é uma mistura das minhas canções e canções que amo e que queria ter escrito, que interpreto de um jeito pessoal, com o violão e o piano. Esse projeto ao vivo é um acústico intimista, geralmente com um ou dois músicos que criam um ambiente sonoro especial, diferente de canção para canção. Descobri uma música de 1947 maravilhosa que se chama "Veleno". Traduzida para o português pelo grande Nelson Motta, faz muito sucesso no Brasil cantada pela Marina Lima. 

Você já disse em palcos de Milão, quando improvisou no piano a música Moon River, que é uma geminiana, sempre imprevisível. E não parou mais. Onde encontra sua estabilidade? 

Em lugar nenhum...a estabilidade é um conceito que nunca realmente me pertenceu. Creio que seja uma ideia, uma espécie de meta psicológica criada pela sociedade. Se você pensar que a respiração não é estável, nada é estável, tudo se alterna, muda e reage ao contexto, não acha?

Acho...no Blue Note, de fato, você se estabeleceu: enquanto cantava "Il mondo" de Jimmy Fontana, teve um momento de comoção profunda...pode contar o motivo, o que aconteceu dentro de você?

Não sei, cheguei a chorar. Nunca tinha acontecido antes. 

Você retornou à Itália depois de uma longa e construtiva ausência. Tem intenção de ficar durante o Natal? 

Sim, certamente. Devo terminar o próximo disco e me dedicar a tudo aquilo que envolve lançar um novo álbum. Concentração máxima! 

Está trabalhando em que? 

Estou preparando um novo disco e estou absolutamente feliz. É o disco que sempre quis fazer e que terá um som e surpresas muito interessantes. Não quero antecipar nada...

Programação de shows, apresentações, datas?

No momento preciso terminar a produção do álbum, depois veremos! Comunicarei as datas aos poucos...

Que 2014 te dê...?

Tudo! Não quero poupar nada! Quero estar onde estou bem. 


domingo, 22 de dezembro de 2013

Último show da Solo+ em 2013!

Cercada de amigos, familiares e fãs, a turnê encerrou o ano em Milão, no já consagrado Blue Note, que já é palco pros shows da Chiara há anos! O setlist foi o clássico da turnê, de Al posto del mondo a Namoradinha de um amigo meu, e obviamente foi um sucesso. :)

Desde já queremos outra turnê, mais shows em mais estados brasileiros, mais cds e mais Chiara em 2014!

Fotos de Alessandro Moneta





Vídeos de granulite65:


Veleno/E po che fa


Resta


Un passo dopo l'altro


Problemi

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

"As muitas faces de Chiara Civello", entrevista de rádio de 2008!

Em maio de 2008,  uma rádio local de Sacramento, na California, a KXJZ Radio, fez uma entrevista com a Chiara no programa Insight. Na ocasião, ela tinha lançado seu segundo álbum e era recém chegada do Rio de Janeiro. Abaixo, o áudio da entrevista e a transcrição, traduzida em português pelo Sofà :)



Radialista: Jazzista e artista pop Chiara Civello canta músicas tanto em inglês como em sua língua nativa, o italiano, mas o sabor de sua música é mais latina, especialmente brasileira, como vocês podem ouvir em "Night", a primeira música de seu novo álbum, The Space Between. (Toca "Night")

R: Chiara Civello, bem-vinda ao Insight.
Chiara: Muito obrigada.

R: O que isso significa, "The Space Between"?
C: "O Espaço Entre" é o espaço entre as notas, o espaço entre você e alguém que está longe, o espaço entre as palavras que você diz e todos os "espaços entre" sobre os quais nunca pensamos, na vida. Então é como um novo jeito de ouvir música e pensar sobre a vida ou a arte de viver. Por exemplo, mesmo um relacionamento pode ser o espaço entre um encontro e outro, mais do que um modo louco e ansioso de precisar de alguém todos os dias, todos os momentos, sabe?

R: Sim! Você escreve a maioria das suas canções e a maioria é em inglês mas há algumas em italiano. Como você decide quando escrever em inglês ou italiano?
C: É interessante, é parte do processo criativo, algo que você não pode decodificar ou falar claramente sobre, mas tenho que dizer que, normalmente, começo pela melodia, por uma ideia melódica, uma intuição, e a melodia é quem usualmente sugere a língua em que vou cantar. Por exemplo, inglês é uma língua imediata, conversacional e um pouco mais curta, italiano é mais dramática, romântica e longa. Então quando há uma curva melódica que pede um pouco de ênfase então vou pro italiano. É difícil dizer, mas geralmente é uma sugestão da melodia, a melodia sugere a língua.

R: Dado o sabor brasileiro de sua música, você alguma vez escreve em português?
C: Eu falo português e costumava cantar muito em português, mas daí eu penso que é um pouco confuso, afinal, sou italiana e moro nos Estados Unidos, eu viajo o mundo, amo música brasileira, mas eu provavelmente gosto mais de me inspirar com o país e então fazer minha própria música falando só duas línguas, acho que duas é o suficiente. Eu canto, às vezes, ao vivo, uma ou duas músicas brasileiras mas não quero que vire algo confuso. 

R: Minha convidada é Chiara Civello que estará tocando no Centro Mondavi de Artes...e vamos ouvir músicas de seu último álbum, The Space Between, e aqui vai uma das italianas, perdoe-me a pronúncia, "Un passo dopo L'altro". Vamos ouvir um pouco dela e depois conversamos. (Toca "Un passo dopo L'altro"")

R: Pessoas que não sabem italiano e escutam a música, podem pensar que é português...
C: Sério?

R: Sim, eu imaginei se era português no começo.
C: Bem, o que eu acho que é, é como se a música italiana que foi exportada da Itália é geralmente ópera ou algo muito...não quero dizer "brega", mas algo muito fortemente pop. Isso é algo mais acústico ou jazz, sons mais familiares para a America, mas que não estão acostumados a ouvir isso em italiano, porque imediatamente o remetem a um clima latino ou brasileiro. A Itália é um país latino, no final das contas, mas não é comum ouvir alguém cantando músicas em italiano que são normalmente cantadas em português ou inglês, por exemplo. Então acho que estou trilhando um caminho que pode não ter sido usado antes.

R: Que tipo de música você cresceu ouvindo? Isso em Roma...?
C: Sim, nasci e cresci em Roma e passei 18 anos da minha vida então me mudei pra Boston e estou aqui desde 1994, e eu ouvia coisas diferentes, todas as coisas que as crianças da minha idade ouviam, como Madonna, Duran Duran, anos 80, sabe, começo dos anos 90...mas teve um momento em que eu realmente mudei e comecei a ouvir um pouco de R&B e fui para o jazz e me apaixonei perdidamente por jazz e comecei a estudar e ganhei uma bolsa pra Berklee, em Boston, então me mudei pra lá. Então escutava coisas mais parecidas com o que queria aprender, como música latina, soul..tive minhas fases.

R: Você foi pra Boston estudar jazz como cantora ou compositora?
C: Bom, a coisa de compor foi algo que aconteceu comigo, não é algo que conscientemente escolhi estudar. O que aconteceu é que cantava as músicas clássicas de jazz e quando fui pra Berklee foi como uma cantora de jazz então estudei mais isso e algo instrumental, improvisação e isso tudo, e, de repente, em 1998, eu me aproximei do piano e pensei "certo, eu amo jazz, música latina, ouvi muita música, que tal combinar todas essas coisas em algo meu?". E aí a primeira música apareceu. Apareceu tipo "puft", (risos) como mágica, do céu, e é essa música que Russ Titelman ouviu, o produtor do meu primeiro álbum.

R: E ele é mais conhecido como um produtor de pop e rock, não jazz. Ele produziu Stevie Wonder e Eric Clapton, não muito jazz.
C: Sim, e produziu Paul Simon...eu diria que ele é uma pessoa de compositores, um produtor de compositores, então o que ele me encorajou a fazer foi escrever minhas próprias músicas e foi o que realmente me abriu os olhos para um novo mundo.

R: E essas músicas, quando você começou a escrever, te pareceram músicas jazz?
C: Não. Eu não penso, realmente, como jazzista. Eu sei que é o que está em minhas mãos porque são as harmonias que uso quando toco piano ou violão, mas não penso em estilo, só penso no que sinto, penso em canções. Ella Fitzgerard e Billie Holiday pensavam em canções também, não pensavam "jazz ou pop", e na verdade jazz foi a música pop dos anos 40. É como um grande gênero popular.

R: Há mais de violão acústico nesse álbum do que no primeiro, vamos ouvir uma dessas músicas, "Born to sail away". (Toca "Born to Sail Away")

R: Minha convidada é Chiara Civello que estará tocando no Centro...falamos mais cedo sobre escrever canções em italiano e português...e quanto a cantar nessas duas línguas? Você fica mais ou menos confortável em alguma delas?
C: Hm, não sei realmente dizer. Eu diria que italiano é a língua com qual nasci e inglês é uma que adotei na vida, então é como filhos, quando você os tem ou os adota os ama do mesmo jeito, se sente confortável com ambos, então tem mais relação com os ouvintes sentirem. Tenho que dizer que muitas vezes pedem pra que eu cante em italiano porque talvez para eles seja um pouco exótico, mas o que é louco é que na Itália eles amam que cante em inglês, mas no que concerne a mim, eu gosto de cantar, em qualquer língua, produzir um som é o que eu amo.

R: Temos ouvido seu último álbum mas queria que ouvíssemos ao menos uma música do seu CD anterior, então vamos de "Here is Everything", a primeira faixa. (Toca "Here is evertyhing")

R: Você falou antes do que você ouvia quando era mais nova, o que você ouve agora?
C: Muda todos os dias...você quer que eu diga quem estava ouvindo...
R: No caminho pra cá?
C: Sim! Ontem ouvi muito Billie Holiday. Tem uma faixa do álbum "God Bless The Child" que eu adoro, chamada "Crazy He Calls Me", então ouvi isso. Depois ouvi Peggy Lee, depois ouvi uma grande amiga minha que é uma estrela no Brasil, ótima cantora e compositora, o nome dela é Ana Carolina. Ela tem uma seleção incrível de músicas e me deu o seu último álbum, então estava ouvindo isso, depois ouvi Milton Nascimento e depois uma música um pouco diferente, instrumental.

R: A maioria de suas canções é autoral mas há algumas parcerias, e uma especialmente memorável no primeiro CD, que é Burt Bacharach. Se chama "Trouble", vamos ouvir um pouco e depois falamos sobre como você escreveu com ele. (Toca "Trouble")

R: Como uma cantora que está tentando se estabelecer consegue trabalhar com Burt sem ser engolida pelo som dele, pela sua estatura? 
C: Primeiramente, foi uma coisa que o produtor arranjou, e começou de um jeito espontâneo, ele ouviu o que tinha escrito até então, estava muito interessado e Russ perguntou se ele estaria disposto a fazer essa parceria e ele disse que sim, então encontrei essa pessoa extremamente generosa. Quando você é devotado ao que faz e fica mais velho e faz sucesso, ter um olhar para o novo, o que está se desenvolvendo, é de muito valor para você e para os outros, então achei um gesto muito generoso e aprendi muito com ele e a música acabou sendo algo que tinha pensado antes de ir à casa dele e que ambos desenvolveram juntos, então foi o melhor jeito de fazer a experiência produtiva.

R: É uma música muito bonita. 
C: Obrigada. 

R: Por fim, Chiara, estava lendo seu blog, que você escreve da estrada, e tem uma foto engraçada da "melhor pizza do mundo"...
C: Ah, sim!

R: E onde tem a melhor pizza, Nova York ou Itália?
C: Oh, bem, não há dúvidas, Napoli, claro, e se você for no meu blog e vir a foto vai querer comer a tela! (Risos) É Micheli, em Napoli, e é a massa, o tomate, a mozzarela de búfala, é como, não sei, um sonho virando realidade. Mas em Nova York estão abrindo algumas pizzarias boas, finalmente. (Risos)

R: Chiara Civello, tocará essa semana no Centro Mondavi de Artes...foi um prazer falar com você, obrigado por vir.
C: Prazer foi meu, obrigada por me receber.