sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

"As muitas faces de Chiara Civello", entrevista de rádio de 2008!

Em maio de 2008,  uma rádio local de Sacramento, na California, a KXJZ Radio, fez uma entrevista com a Chiara no programa Insight. Na ocasião, ela tinha lançado seu segundo álbum e era recém chegada do Rio de Janeiro. Abaixo, o áudio da entrevista e a transcrição, traduzida em português pelo Sofà :)



Radialista: Jazzista e artista pop Chiara Civello canta músicas tanto em inglês como em sua língua nativa, o italiano, mas o sabor de sua música é mais latina, especialmente brasileira, como vocês podem ouvir em "Night", a primeira música de seu novo álbum, The Space Between. (Toca "Night")

R: Chiara Civello, bem-vinda ao Insight.
Chiara: Muito obrigada.

R: O que isso significa, "The Space Between"?
C: "O Espaço Entre" é o espaço entre as notas, o espaço entre você e alguém que está longe, o espaço entre as palavras que você diz e todos os "espaços entre" sobre os quais nunca pensamos, na vida. Então é como um novo jeito de ouvir música e pensar sobre a vida ou a arte de viver. Por exemplo, mesmo um relacionamento pode ser o espaço entre um encontro e outro, mais do que um modo louco e ansioso de precisar de alguém todos os dias, todos os momentos, sabe?

R: Sim! Você escreve a maioria das suas canções e a maioria é em inglês mas há algumas em italiano. Como você decide quando escrever em inglês ou italiano?
C: É interessante, é parte do processo criativo, algo que você não pode decodificar ou falar claramente sobre, mas tenho que dizer que, normalmente, começo pela melodia, por uma ideia melódica, uma intuição, e a melodia é quem usualmente sugere a língua em que vou cantar. Por exemplo, inglês é uma língua imediata, conversacional e um pouco mais curta, italiano é mais dramática, romântica e longa. Então quando há uma curva melódica que pede um pouco de ênfase então vou pro italiano. É difícil dizer, mas geralmente é uma sugestão da melodia, a melodia sugere a língua.

R: Dado o sabor brasileiro de sua música, você alguma vez escreve em português?
C: Eu falo português e costumava cantar muito em português, mas daí eu penso que é um pouco confuso, afinal, sou italiana e moro nos Estados Unidos, eu viajo o mundo, amo música brasileira, mas eu provavelmente gosto mais de me inspirar com o país e então fazer minha própria música falando só duas línguas, acho que duas é o suficiente. Eu canto, às vezes, ao vivo, uma ou duas músicas brasileiras mas não quero que vire algo confuso. 

R: Minha convidada é Chiara Civello que estará tocando no Centro Mondavi de Artes...e vamos ouvir músicas de seu último álbum, The Space Between, e aqui vai uma das italianas, perdoe-me a pronúncia, "Un passo dopo L'altro". Vamos ouvir um pouco dela e depois conversamos. (Toca "Un passo dopo L'altro"")

R: Pessoas que não sabem italiano e escutam a música, podem pensar que é português...
C: Sério?

R: Sim, eu imaginei se era português no começo.
C: Bem, o que eu acho que é, é como se a música italiana que foi exportada da Itália é geralmente ópera ou algo muito...não quero dizer "brega", mas algo muito fortemente pop. Isso é algo mais acústico ou jazz, sons mais familiares para a America, mas que não estão acostumados a ouvir isso em italiano, porque imediatamente o remetem a um clima latino ou brasileiro. A Itália é um país latino, no final das contas, mas não é comum ouvir alguém cantando músicas em italiano que são normalmente cantadas em português ou inglês, por exemplo. Então acho que estou trilhando um caminho que pode não ter sido usado antes.

R: Que tipo de música você cresceu ouvindo? Isso em Roma...?
C: Sim, nasci e cresci em Roma e passei 18 anos da minha vida então me mudei pra Boston e estou aqui desde 1994, e eu ouvia coisas diferentes, todas as coisas que as crianças da minha idade ouviam, como Madonna, Duran Duran, anos 80, sabe, começo dos anos 90...mas teve um momento em que eu realmente mudei e comecei a ouvir um pouco de R&B e fui para o jazz e me apaixonei perdidamente por jazz e comecei a estudar e ganhei uma bolsa pra Berklee, em Boston, então me mudei pra lá. Então escutava coisas mais parecidas com o que queria aprender, como música latina, soul..tive minhas fases.

R: Você foi pra Boston estudar jazz como cantora ou compositora?
C: Bom, a coisa de compor foi algo que aconteceu comigo, não é algo que conscientemente escolhi estudar. O que aconteceu é que cantava as músicas clássicas de jazz e quando fui pra Berklee foi como uma cantora de jazz então estudei mais isso e algo instrumental, improvisação e isso tudo, e, de repente, em 1998, eu me aproximei do piano e pensei "certo, eu amo jazz, música latina, ouvi muita música, que tal combinar todas essas coisas em algo meu?". E aí a primeira música apareceu. Apareceu tipo "puft", (risos) como mágica, do céu, e é essa música que Russ Titelman ouviu, o produtor do meu primeiro álbum.

R: E ele é mais conhecido como um produtor de pop e rock, não jazz. Ele produziu Stevie Wonder e Eric Clapton, não muito jazz.
C: Sim, e produziu Paul Simon...eu diria que ele é uma pessoa de compositores, um produtor de compositores, então o que ele me encorajou a fazer foi escrever minhas próprias músicas e foi o que realmente me abriu os olhos para um novo mundo.

R: E essas músicas, quando você começou a escrever, te pareceram músicas jazz?
C: Não. Eu não penso, realmente, como jazzista. Eu sei que é o que está em minhas mãos porque são as harmonias que uso quando toco piano ou violão, mas não penso em estilo, só penso no que sinto, penso em canções. Ella Fitzgerard e Billie Holiday pensavam em canções também, não pensavam "jazz ou pop", e na verdade jazz foi a música pop dos anos 40. É como um grande gênero popular.

R: Há mais de violão acústico nesse álbum do que no primeiro, vamos ouvir uma dessas músicas, "Born to sail away". (Toca "Born to Sail Away")

R: Minha convidada é Chiara Civello que estará tocando no Centro...falamos mais cedo sobre escrever canções em italiano e português...e quanto a cantar nessas duas línguas? Você fica mais ou menos confortável em alguma delas?
C: Hm, não sei realmente dizer. Eu diria que italiano é a língua com qual nasci e inglês é uma que adotei na vida, então é como filhos, quando você os tem ou os adota os ama do mesmo jeito, se sente confortável com ambos, então tem mais relação com os ouvintes sentirem. Tenho que dizer que muitas vezes pedem pra que eu cante em italiano porque talvez para eles seja um pouco exótico, mas o que é louco é que na Itália eles amam que cante em inglês, mas no que concerne a mim, eu gosto de cantar, em qualquer língua, produzir um som é o que eu amo.

R: Temos ouvido seu último álbum mas queria que ouvíssemos ao menos uma música do seu CD anterior, então vamos de "Here is Everything", a primeira faixa. (Toca "Here is evertyhing")

R: Você falou antes do que você ouvia quando era mais nova, o que você ouve agora?
C: Muda todos os dias...você quer que eu diga quem estava ouvindo...
R: No caminho pra cá?
C: Sim! Ontem ouvi muito Billie Holiday. Tem uma faixa do álbum "God Bless The Child" que eu adoro, chamada "Crazy He Calls Me", então ouvi isso. Depois ouvi Peggy Lee, depois ouvi uma grande amiga minha que é uma estrela no Brasil, ótima cantora e compositora, o nome dela é Ana Carolina. Ela tem uma seleção incrível de músicas e me deu o seu último álbum, então estava ouvindo isso, depois ouvi Milton Nascimento e depois uma música um pouco diferente, instrumental.

R: A maioria de suas canções é autoral mas há algumas parcerias, e uma especialmente memorável no primeiro CD, que é Burt Bacharach. Se chama "Trouble", vamos ouvir um pouco e depois falamos sobre como você escreveu com ele. (Toca "Trouble")

R: Como uma cantora que está tentando se estabelecer consegue trabalhar com Burt sem ser engolida pelo som dele, pela sua estatura? 
C: Primeiramente, foi uma coisa que o produtor arranjou, e começou de um jeito espontâneo, ele ouviu o que tinha escrito até então, estava muito interessado e Russ perguntou se ele estaria disposto a fazer essa parceria e ele disse que sim, então encontrei essa pessoa extremamente generosa. Quando você é devotado ao que faz e fica mais velho e faz sucesso, ter um olhar para o novo, o que está se desenvolvendo, é de muito valor para você e para os outros, então achei um gesto muito generoso e aprendi muito com ele e a música acabou sendo algo que tinha pensado antes de ir à casa dele e que ambos desenvolveram juntos, então foi o melhor jeito de fazer a experiência produtiva.

R: É uma música muito bonita. 
C: Obrigada. 

R: Por fim, Chiara, estava lendo seu blog, que você escreve da estrada, e tem uma foto engraçada da "melhor pizza do mundo"...
C: Ah, sim!

R: E onde tem a melhor pizza, Nova York ou Itália?
C: Oh, bem, não há dúvidas, Napoli, claro, e se você for no meu blog e vir a foto vai querer comer a tela! (Risos) É Micheli, em Napoli, e é a massa, o tomate, a mozzarela de búfala, é como, não sei, um sonho virando realidade. Mas em Nova York estão abrindo algumas pizzarias boas, finalmente. (Risos)

R: Chiara Civello, tocará essa semana no Centro Mondavi de Artes...foi um prazer falar com você, obrigado por vir.
C: Prazer foi meu, obrigada por me receber.