quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Entrevista da Chiara ao Distopic.it!


CHIARA CIVELLO
"Ser bonita ajuda sempre, mas somente se você tiver pequenas ambições."


Muitos dizem que ela estará novamente no próximo festival de Sanremo, mas Chiara Civello prefere não comentar nada. Para ela, o festival mais famoso da Itália está guardado na sua lembrança: "de Sanremo 2012 somente uma coisa me aterroriza até hoje: aquela maldita escadinha!" 

Nas redes sociais em 2012, todos comentavam a incapacidade de Shaggy de se concentrar diante do seu vestido vermelho...
CC : É, vermelho é sempre irresistível.

Beleza rima com sucesso?
CC : Ser bonito ajuda sempre, mas somente se tiver pequenas ambições.

Nas suas entrevistas, você passa a imagem de ser uma mulher muito ambiciosa no trabalho. Acha que a música te priva ou está privando algumas coisas do ponto de vista pessoal? 
CC : A música na verdade agrega, soma e basta. É a minha vida, o modo de conhecer o mundo e as pessoas.

A música atrapalhou sua vida pessoal? 
CC : Certamente viajando tanto nunca foi fácil manter manter um relacionamento, se é isso que está se referindo, mas eu não tive histórias com pessoas que me esperavam em casa. O importante é apaixonar-se. Isso não pode faltar. E a música não me tira isso, pelo contrário. 

Em uma época você pegou um avião e saiu da Itália para a América. Para quem ficou, sobraram os shows de talentos. Você gosta? 
CC : Esse conceito é divertido como forma de entretenimento para a televisão. Eu não tenho televisão, então não acompanho. Mas se isso se tornou o único critério para reconhecer talentos, me entristece.

Seria uma boa jurada?
CC: Creio que não seria capaz. Quem sou eu para julgar ou mudar outra voz? Cada um acha sua própria voz dentro de si, trocando com o público ou com grandes professores que cada um escolhe, não quem o escolhe.

Você tem uma paixão declarada pelo Brasil, país de grandes contradições, assim como a Itália. O que fez você se apaixonar pela cultura verde-amarela?
CC : O frescor, a jovialidade, a liberdade, o acolhimento, a passionalidade, a visceral e diária convivência com a música, a literatura, a poesia. Tudo.

A Itália é um país que você gosta? Musicalmente somos os maiores da melodia, como você disse, mas não crê que perdemos um pouco daquele brilho que nos caracterizava no mundo. Culpa da crise ou tem outros fatores?
CC : Acredito que se perdeu um pouco da reciprocidade com os repertórios internacionais, como acontecia nos anos 60, 70, período em que as musicas italiana eram sucesso em países como Brasil e EUA e vice-versa. Talvez nos últimos anos a música aqui foi muito nacionalizada, e falta um pouco aquilo que chamo de "internacional popular".

Não pensa que sua popularidade seja inversamente proporcional na Itália com aquela que há no exterior? É frustrante ou você não se importa particularmente?
CC : Não é bem assim, digamos de uma vez por todas: eu permaneci na Itália muito pouco. Agora estou aqui e me faço ouvir mais, é isso. Infelizmente - sorri - no entanto eu não tenho o dom da ubiquidade, senão não teria deixado a Itália enquanto absorvia o resto do mundo. 

Gosta tanto do mundo alternativo quanto de mainstream. Você agrada os fãs tanto de Carnesi, Gil, de Tenco ou de Sanremo. Em que direção caminha seu percurso artístico?
CC : Quero crescer e aprender coisas novas, compor com pessoas diferentes, e continuar como intérprete, o que está me dando grande satisfação. Amo Nicola Conte e quero que ele produza outros discos meus.

Da Chiara fora da música não se sabe muito. O que a emociona? O que gosta de ler ou assistir no cinema? 
CC : Sou de gêmeos, o que me emociona hoje pode me aborrecer amanhã. Mas tem coisas que permaneço fiel. Gosto de poesia, Sandro Penna, Umberto Saba, Amélia Rosseli, Mario Quintana, Emily Dickinson, Clarice Lispector, Patrizia Cavalli. Gosto de literatura e cinema. Estou vendo filmes dos anos 70, tanto pela sua bela maneira de ousar quanto pelas musicas incríveis.

Sabemos da sua paixão por exercícios e bem estar em geral...
CC : Sim, eu preciso correr, me mover, suar, não por uma questão estética, meu organismo pede: ter o meu corpo em forma para oferecer a minha alma um lugar confortável e belo para habitar e se expressar. 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

"A eutropia de Chiara Civello, a extropia de Nicola Conte", por Rioma Brasil

Mais uma matéria maravilhosa de Romina Ciuffa para o Rioma Brasil, dessa vez sobre a participação da Chiara no Festival Eutropia:



Será o destino, Chiara Civello e Nicola Conte se apresentam no Eutropia, o festival romano de musica, o único que consegue verdadeiramente em um verão capitolino, que não dá outra chance, onde a programação é pobre e no qual os patronos fizeram compromissos um tanto políticos para ter bom gosto, enquanto os organizadores se focaram unicamente no Mundial, antes, a .... ? (omissis) depois (veremos e escreveremos). 

O fato é que não tem apenas o mágico Brasil ao qual estamos habituados e onde tem especulações sem conteúdo. Eutropia,  estávamos falando, e não é acaso que Chiara Civello a escolheu.

Eutropia era uma daquelas cidades de memória calviniana: cidade que apesar de sua constante mudança está sempre idêntica a si mesma, compondo o destino que carrega no nome: boa mudança. E Chiara é isso: eutropia, boa mudança.  Não só isso: “também as cidades de serem obra da mente ou do acaso, mas não bastam apenas uma para construir suas paredes. De uma cidade não se aprecia as 7 ou 77 maravilhas do mundo, mas a resposta que dá a uma pergunta", escreveu Marco Polo, citado por Italo Calvino. Uma viajante eterna, que parada nunca estará, que não encontra paz senão na mudança e nas resposta que as pessoas dão.

Esta resposta hoje é grande, é um sim. Um sim imenso e corajoso, o último trabalho, 17 canções. Não são a canções quaisquer que Chiara se entrega esta vez. São AS canções. Algumas crescemos com ela, outras foram se juntando.  Paolo Conte, Pino Daniele, Vinicio Capossela, Jimmy Fontana e vai indo. O álbum dos seus sonhos finalmente está aqui, e é no seu pós-Rio, momento no qual, após alcançar o sucesso entre os  brasileiros, retorna aos romanos, para uma escolha unânime: digo unânime e me refiro às duas faces de Chiara, uma geminiana que oscila entre as múltiplas grandes personalidades que se movem no mundo com força e fragilidade, paciência e impaciência, solidão e multiplicidade, indo e retornando. Unânimes os dois gêmeos trazem de volta a casa, neste tempo, e Roma a agradece agora que a vê mais trasteverina que nunca.

E hoje é também mais pugliesa: desde quando escolheu Nicola Conte para este disco que era em preparação há tempo, com ele foi possível, ela fala no palco de Eutropia, primeiro concerto em casa que ela se apresenta, juntamente com ele, em 06 de julho. A extropia de Conte, portanto, reorganizar em ordem, fenômeno das estruturas organizadas e vitoria temporânea sobre a entropia. Isso indica, ela vestida de azul argento, ele parado com sua guitarra, pés fincados no chão. Estamos falando de um musicista que no decorrer de sua vida soube conduzir sonoridades diferentes e misturando mundos como Itália e Brasil, eletrônica e bossa nova, clássicos italianos e jazz, com sabedoria e sensibilidade. 

Depois dos primeiros experimentos pessoais, em Jet Sounds, mistura elementos de jazz com a club culture – foi ele que descobriu Rosália de Souza, quando produziu Garota Moderna (em seguida produziu um remix em Garota Diferente), é autor de centenas de remixes, colaborou com jazzistas como Nicola Stilo, Fabrizio Bosso e outros. Hoje está no palco com Chiara Civello e não se surpreende: quem melhor que ela para entender o eclético? Quem melhor que Civello sabe fundir os estilos, sabe estar continuamente em discussão da escolha e dar uma imagem mais firme e definitiva, se aventurando com coragem em todos os novos  trabalhos com a diversidade que arrebata fãs?

A dupla é formada, e um branco e preto de época apresenta este primeiro concerto na casa dela, a sua Roma que, como uma mãe, a acolhe pontual, para voltar no tempo com as canções que a jazzista a faz dela e reinterpreta com voz civelliana, quente e impecável. Il Mondo, que ela canta faz anos, é nas suas mãos e no seu olhar, não parou em nenhum  momento, a noite é sempre seguida do dia. A mesma canção na qual, no Blue Note de Milão, ela chorou, em 21 de dezembro, hoje é parte de um projeto completo, depois de muitas viagens entre Rio, Roma, Bari e tantos outros, o mundo a pertence ainda mais. 

E assim Io che amo solo te, cavalo de batalha nos seus concertos, com o qual levou o clássico italiano também ao Brasil, também é um pouco de Chico Buarque, que no disco canta com ela, enquanto Gilberto Gil, durante a gravação de Io che non vivo più di um`ora senza te, se comovia. 

No álbum também Ana Carolina, com a qual Chiara dividiu tantos palcos brasileiros e alguns italianos, canta com ela E penso a te, que nesta apresentação Chiara interrompe para escutar o público em coro esta que é uma das grandes canções italianas de todos os tempos. Todos os brasileiros cantam em italiano no disco. Exceção de Esperanza Spalding que no I mulini dei ricordi de Michel Legrand, duetam em italiano e inglês.

O público de Eutropia é o de Chiara Civello, são todos aqueles que amam as suas contínuas mudanças, a sua surpresa, as suas atenções nos confrontos do palco, são, entre outros, Diana Tejera, que com ela escreveu Stesa sul Sofà e Al Posto Del Mondo, Patrizia Cavalli, entre as grandes poetisas italianas, Nicola Stilo, eclético flautista do jazz italiano, sempre perto do Brasil e sobretudo de Chico Buarque, e todo o FC Stesa sul Sofà, que a segue em toda parte.

E aquele infinito público que a adora como se adora uma diva de outros tempos, e que dá coragem de mudanças sempre. O movimento de pêndulo de um geminiano não é fácil de aguardar para o próprio geminiano, e a mudança é o único objetivo de dar um sentido ao mundo que, contudo, gira ao seu redor.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Marie Claire Itália: "As canções de Chiara Civello"

As canções de Chiara Civello
Entrevista com a cantora e compositora romana: "o amor da vida conquisto com um sorvete de lavanda"
Francesca Zaccagnini



Chegou no Brasil por uma desilusão de amor e encontrou alegria e inspiração. Agora, Chiara Civello, cantora e compositora romana, com uma voz sensual que mistura jazz e soul à bossa nova e que encantou platéias do mundo todo, volta para a Itália com Canzoni, seu primeiro disco totalmente de intérprete, no qual reconta alguns clássicos da música italiana. 

Como nasceu Canzoni?
Depois de quatro álbuns de cantora e compositora quis explorar algo diferente em mim e senti a necessidade forte de fazer um tributo à música italiana, logo eu, que passei tanto tempo fora do meu país. Queria externalizar todo o som que absorvi em todos esses anos que morei na América e depois no Brasil, dentro desse disco que inclui músicas dos anos sessenta até hoje, com Capossela, Vasco Rossi, Subsonica, Negramaro. Não queria fazer uma operação nostálgica mas uma revisitação internacional da música italiana

Com qual canção começou o álbum?
Com Incantevole, que é também o primeiro single. Porque no início queríamos fazer só grandes clássicos mas depois decidimos torná-lo mais contemporâneo e então começamos a escolha dos mais jovens. E junto a Nicola Conte essa de Subsonica foi a primeira que fizemos de fato "nossa".

Qual canção ficou de fora por um motivo ou outro?
Foram muitas. Mas como me sinto satisfeita com esse trabalho, do qual gosto de tudo, da seleção aos arranjos, não excluo a possibilidade de haver um volume 2. Então acabarão lá, cedo ou tarde. 

Entre os jovens que escolheu "recantar" não há nenhuma mulher. Como assim?
Sabe que não notei? Mas, desculpe, quais são as mulheres autoras de sucesso atualmente? Ando vivendo muito fora...

Ah, tem Elisa, Laura Pausini, Georgia, só para mencionar algumas. Não só: nunca colaboraste com uma mulher italiana, mesmo que no exterior tenha duetado com muitos artistas...
Mas bem, tem razão, absurdo...ah! Não! Escrevi uma canção para Paola Turci! "Cuore distratto", belíssima, gosto muito.

O que você encontrou no Brasil que não achou em nenhum outro lugar?
A alegria, a eletricidade. São, como diz a grande poetisa Patrizia Cavalli, profissionais da alegria. Me ensinaram muito, partindo de como é importante colaborar, para estimular-se e criar. 

O que sente falta do Rio quando está aqui na Itália?
Sinto falta dos amigos, do mar carioca, sinto falta de correr ao redor da Lagoa, deixando rolar os pensamentos. 

Que sugestão de local daria para quem vai ao Brasil?
A Prainha, uma bela praia quase fora da cidade. Ande lá pela manha, onde estão os surfistas, tome café em um dos quiosques. Depois vá ouvir os shows no Circo Voador, na Lapa. E depois São Paulo, onde se come muito bem e às praias de Salvador, absolutamente incríveis. 

E de Nova York, onde tem uma casa e viveu por muito tempo?
De NY sinto falta da variedade de estímulos, dos shows à moda. Ali encontro as botiques mas também os brindes vintage, pelos quais sou apaixonada. Como pode notar da capa [do CD]: o vestido não é desenhado mas refeito em Santoria Farani de Roma, com base numa das roupas usadas por Florinda Bolkan em Metti una sera a cena. Não existia uma foto de frente então tivemos que inventar.

Por que aquele vestido?
Porque me interessava aquela estética, elegância incrível e muito sexy, que é também extremamente moderna do cinema da época, de La decima vittima a Metti una sera a cena, que é um dos meus filmes preferidos. Uma moda que valorizava tanto o corpo feminino. 

Tem uma noite de jantar: quem chamaria? 
Todos! Certamente uma "presa" em potencial mas também tantos amigos, mesmo que não se conheçam entre si, para criar um clima diferente porém divertido. 

E o que serviria? 
Certamente sorvete de lavanda. Porque, há muito tempo, vivia em NY e era apaixonada loucamente por um cara. Então o convidei para jantar mas no momento de fazer o menu fiquei perdida e chamei uma amiga para pedir-lhe conselhos. E ela me disse "sorvete de lavanda! Vai até o Dean&Deluca e compra, é infalível". E tinha razão. Funcionou. 

Qual é o segredo para fazer dar certo uma história de amor? 
A alternância entre presença e ausência. Rainer Maria Rilke disse que a receita para um matrimônio duradouro é saber recriar o mecanismo de separação e reconciliação, entre distância e encontro, infinitamente. Estar junto continuamente é prejudicial, até na convivência. É preciso estar comprometido com a própria vida para criar um amor que dure para sempre.

Se não fosse uma cantora?
Desde criança adorava o cheiro de gasolina e cheguei a perguntar como fazia para ter um posto de gasolina! Não sei, talvez iria querer ser atriz. Sim, teria gostado.

E agora, que perfume gosta?
Tenho três entre os quais oscilo: um é Incenso di Comme des Garçons, depois é Melocule 01 e Melograno di Santa Maria Novella. 

Próximos projetos?
Em 15 de julho iniciarei as datas ao vivo e depois no outono começa a turnê de fato. Que me levará ao redor do mundo novamente. 

E agora?
Ah, agora estou um pouco aqui! 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Matéria do Il Foglio Quotidiano

Acreditamos que, apesar de eventuais estranhezas que possa o referido texto possuir, sua intenção, de início, foi somente descrever uma das facetas do poder vocal da Chiara Civello: a sensualidade, elegância e a capacidade de criar um clima intimista nas mais variadas canções. A tradução é livre e algumas palavras foram substituídas por seus sinônimos mais suaves em português, pra facilitar a compreensão.

A italiana que exala feminilidade
Elogio irrestrito à Chiara Civello e ao seu novo disco sexy


Tonny Bennett disse que Chiara Civello é a melhor cantora jazz da sua geração. E todos tornam a repetir, porque é fácil de lembrar, porque pega bem, porque está escrito na Wikipédia. É preciso um longo tempo para ouvir as músicas mais significativas de Lala Hathaway, Norah Jones, Jane Monheit, Madeleine Peyroux e obviamente Diana Krall, e se pensa que o velho crooner seja sincero ou ao menos Frank Sinatra. 

Este não é o melhor início para um artigo em que proponho elogiar desenfreadamente Chiara Civello e seu último álbum, eu sei. Mas me serve para dizer que é inútil fazer comparações: cantar, todas listadas acima são capazes, mas é na feminilidade onde não existem rivais para a italiana. Canzoni talvez não seja um disco jazz, talvez nem apenas um bom disco (os responsáveis pelo sound foram Nicola Conte e Eumir Deodato, que deram o melhor, respectivamente, nos anos zero e até mesmo nos anos setenta), mas é um poderoso lembrete do amor físico e isso se deseja no limiar do verão de 2014.

As 17 canções de Canzoni fazem parte do repertório da canção italiana clássica, Morricone, Buscaglione, Gino Paoli, Paolo Conte, Mogol-Battisti, Jimmy Fontana, os campeões de uma época cujas canções eram trilha sonora de Eros. Se me chamassem para fazer a escolha da trilha sonora de um filme com homens e mulheres que na Itália de hoje se procuram e se encontram, eu fugiria, de tão triste que estão nossos novos autores (ex. Le luci della centrale elettrica, de Vasco Brondi), e colocaria Jon Hopkins, Nine Inch Nails, Black Keys. Ou chamaria Chiara Civello: basta um início de um sorriso, uma leve respiração, para transformar a música mais inofensiva em um afrodisíaco para se ouvir sob supervisão médica. Porque ela tem a voz mais destacada de sua geração, um registro incontestável da cantora nascida em Roma, dado insignificante porque muitas pessoas nascem lá, mas siciliana de Modica, muito mais interessante pela sensualidade e preciosidade de uma pequena cidade de igrejas barrocas e chocolates saborosos.

Quem sabe porque a Val di Noto (região da Sicília), produziu tantas belezas assim tipicamente italianas, e penso em Loredana Cannata, Anna Valle, Rosalba Misseri, Valeria Solarino, Margareth Madè. Entre estas, a beleza mais italiana de todas é mesmo aquela de Venere di Modica, intocada pelo exotismo. Só que o povo italiano é fruto de várias misturas, mas constato que existe um biótipo por assim dizer baricêntrico, uma peculiar combinação de genes que só os italianos podem ter e que portanto Chiara Civello, que com prazer verei crescer.

Sedutora mas não exótica, quando Chiara canta parece que canta para você

Sexy mas sem ser exótica, digo, e sem tomar o atalho da sensualidade que é a ambigüidade. Para atrair ela não necessita parecer um pouco lésbica ou um pouco homem, como por exemplo, Emmanuelle Seigner, para citar uma intérprete de outro disco erotizante lançado a pouco, que tem o charme ameaçador de um travesti. Ela não precisa falar palavrões, é o contrário de uma rapper, e também diferente da deliciosa Camille de “too drunk to fuck”. Não deve ter tatuagens, explícita ou ser vulgar: a sua precedente é Mina, felizmente censurada em “L`importante è finire”. Para ter tudo, o melhor é não dizer tudo. Nem mostrar tudo, como se percebe na fabulosa foto de capa, citando Florinda Bolkan de Metti uma sera a cena, que deixa descoberta uma nada estreita faixa do corpo, do ombro ao tornozelo, e nas músicas antes e depois do vestido que levam finos cordões que não desejamos nada além de desfazer ou cortar (e na penúltima canção canta: “usa-me, tortura-me, rasga-me” que é uma coisa boa).

Não tenho certeza se a homossexualidade tem cura, mas se ela existe é uma mulher com a cara, a voz, as palavras e o corpo tipo Chiara Civello. Tenho certeza que Canzoni pode ajudar aos que sofrem de “assexualidade”, outra doença contemporânea. Existem pessoas que não consideram a opção do amor físico se a canção não os remete à existência. Outra parte sexy do disco é o cover de Va bene, va bene cosi, onde uma voz com o tom perfeito e a pronúncia decidida: O que faremos, estamos juntos esta noite, vai... e depois de um sax chega a poesia do fato consumado: “Você percebeu que fizemos amor, sim?“ Quando cantado por Vasco parece que ele canta para um estádio inteiro, cinqüenta mil pessoas e portanto, ninguém; quando Chiara canta, parece que está dizendo a você.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Entrevista completa para a Radio Dimensione Musica!

No dia 19 de maio a Chiara esteve numa rádio romana para falar do novo álbum, Canzoni. Dentre as entrevistas de rádio concedidas nesse período, com certeza essa é uma das mais divertidas e diferentes. Ao longo de vários minutos a Chiara fala de filmes, música, carreira no cinema, fãs brasileiros e, como sempre, fala muito do Brasil em geral! Transcrevemos em português pra vocês. :)



Agora então teremos uma convidada especialíssima, Chiara Civello! Boa tarde! Olá, como estás?

Oi! Muito bem, boa tarde!


Então Chiara, dia 06 de maio foi lançado este álbum, se não me engano seu quinto álbum que se chama Canzoni, foi uma necessidade tua de tornar-se interprete, além de cantora e compositora.


Bom, no meu quinto álbum, me fiz duas perguntas, eu que sempre tenho vontade de descobrir coisas e caminhos diferentes, em todos os álbuns coloquei algum cover em italiano, ou alguma música que amo particularmente, por razões pessoais ou musicais ... e agora eu quis me vestir somente de intérprete e não de cantora, o que não significa que deixei de escrever canções, mas que abri um caminho paralelo, muito bonito, entusiasmante, rico, que me fez descobrir um lado que tinha em mim mas que não era dominante, o de intérprete. Também escolhi o repertório nas músicas que sou habituada como o jazz etc., no repertório italiano e escolher as músicas que podem representar tudo que eu vivi dentro das nossas canções.

Absolutamente! Não se deve achar que um álbum de cover seja apenas cover, Canzoni, não é um álbum de cover, é um disco onde você pegou canções do passado, mas também algumas músicas de um passado mais recente e refez a seu modo, mas sem alterar a essência. Quanto isso é difícil?

Se você tem a ajuda das pessoas certas, criativas, não fica tão difícil quanto parece. Eu tive a sorte e a intuição de chamar Nicola Conte como produtor e esse encontro se revelou como um casamento musical perfeito criativo, e chamamos também um grande arranjador que é o grande Eumir Deodato. Ele ama não somente os grandes crooners americanos, ele foi um dos produtores do clássico álbum de Sinatra e Jobim. E é perfeito, porque a estrutura, a arquitetura sonora foi criada em estúdio com a banda e eu me reescrevi em cima desses arranjos e fizemos a gravação em Praga, com a orquestra sinfônica, são arranjos muito bonitos, é como se colocasse tudo num tapete voador, como se tivesse dado asas às canções...

É isso mesmo que se percebe no álbum. E a tua dificuldade de escolher as músicas, porque são 17 faixas, foi difícil?

É, eu não sou boa com escolhas, ou em eliminar alguma coisas quando tudo funciona. Pensei também pela ótica desta crise [da economia italiana], que ninguém compra disco, se alguém o faz temos que ser generosos, e também ocupar todo o espaço que tem no CD. Nós, em três dias, conseguimos gravar tantas canções, a banda estava muito entrosada, ao meu redor Nicola conseguiu construir um som, exatamente como um vestido sob medida, perfeito, e eu me senti super livre para interpretar, e foram tantas músicas em tão pouco tempo que ficamos em dúvida na escolha, qual deixaríamos de fora. Fizemos também algumas versões estrangeiras, mas são à parte, para o mercado exterior

Bom, e qual foi a que você deixou de fora, por um motivo ou outro não aparece no disco?

Não, todas as músicas que eu queria assim de maneira visceral, estão [nele], e são 17 mais as versões ao todo são 21, sendo que 3 são versões em outras línguas... então estão todas... a outra pergunta é: por que estes autores...bom foi uma escolha instintiva, ligada à momentos e do feedback que Nicola me dava, nós fizemos uma lista enorme de músicas, e antes de entrar em estúdio, na pré-produção, Nicola fez um esforço imaginativo para saber o quanto poderia ser feito para dar aquele som internacional que queríamos para as canções. O feedback dele foi fundamental mas eu também não tive escrúpulos, eu falava: vamos fazer um volume 2, volume 3 (risos)

Que maravilha... eu penso que essa é a chave realmente para um ótimo trabalho em estúdio, e tem todo uma produção, que é fundamental... mas também não se por limites, porque nesse momento, não há um bloqueio artístico, e para o musico creio que é um erro muito grande. Bom... a música que vamos ouvir agora... você escolheu autores nada importantes (risos). Bom, pra mim é um dos mais belos e difíceis, você que pode me dizer melhor, mas se confrontar com um autor assim... Lucio Battisti...

É, grande Lucio Battisti, na verdade, foi muito natural porque é uma das canções mais belas, e eu viajei muito, tenho um filtro das mais belas canções, e não foi difícil cantar essa canção, ainda mais com uma voz maravilhosa como a de Ana...



Foi uma colaboração que não foi apenas boa, foi perfeita, e se não me engano, você a fez escutar a música no carro.

Aconteceu assim: a fiz escutar, em alguma das suas viagens a Itália, mas foi tocando violão, ela se encantou com a melodia, me lembro muito bem... talvez pensávamos em fazer uma versão em português, mas aí eu falei a ela que faria esse álbum de covers italianos famosos, e disse que gravaria E penso a te, e a fiz ouvir a base que tínhamos feito para a música e ela disse: "Eu quero cantar com você, senão a gravarei no meu próximo disco" (risos). Eu disse "óbvio, claro". E nós também já fizemos tantos duetos...eu digo que nossas vozes combinam muito...

Sim... se enlaçam muito muito bem...Bom, vamos logo escutar E penso a Te, na versão de Chiara Civello.

(...)

E penso a Te, uma canção linda de Lucio Battisti, acompanhada de uma fantástica voz. Falávamos de Canzoni: um álbum cheio de colaborações, cover, e duetos, grandes nomes de fora da Itália...porque você viaja muitíssimo, se não me engano você retornou antes do Natal, de uma viagem do Brasil. Como faz para viajar tanto?

Olha, na verdade, passei muito tempo no Brasil porque ali tive várias oportunidades, belíssimas, onde vou retornar para apresentar o disco, e por muitos anos minha realidade foi Nova York, e tento deixar ativo este triangulo geográfico, porque é importante para mim ter esse contato com vários países, pessoas diversas, me enriquece, porque sou uma pessoa muito curiosa, muito vivaz (risos)

Escuta, mas como é ser uma jazzista, uma cantora jazz na Itália?

Olha, eu não faço esse tipo de reflexão e eu, por natureza, não me prendo a rótulos, a definições, eu na vida faço muitas experiências, não ergo bandeiras, sempre me senti livre em tudo que faço, mas estilisticamente tenho o jazz e também o pop. Na verdade este disco flerta com o northest soul, outro tipo de jazz, bossa nova, e representa tudo que vivi. Eu acredito muito que essa maneira pessoal de interpretar as músicas que se ama é a melhor porque é a mais sincera, real, e coloca no universo essa maneira realmente tua.

E seguramente esse senso de liberdade estava aberto nessas tuas viagens pelo mundo.

Sim, com certeza, muito importante

Também se relacionar com públicos diferentes do italiano...

Certo, tudo faz crescer muito, porque se percebe como a música é vivida nos outros países. Infelizmente, na Itália, a musica foi resumida a um fenômeno muito televisivo. Eu acho que não tem um culpado, acho que se perdeu o hábito de se procurar as coisas belas, de assistir ao vivo, de participar do desenvolvimento criativo de um artista, mas não tem um responsável. Eu acredito que um italiano médio não convive com a música como um brasileiro ou norte-americano médio. Se você vai ao Brasil você vê que o brasileiro vive, tem uma participação na musica, e nas coisas novas que lançam são belíssimas, viscerais. Tantos trajetos criativos de tantos artistas e cantores. Aqui a maioria fez fama através da TV, exceto os grandes. E esse tipo de dinâmica é que falta. Por isso viajo tanto.

É, aqui estamos parados, porque temos muitos artistas feitos pela televisão, que sim, vende muito, mas um álbum, mas depois disso, as pessoas perguntam: mas de qual reality era esse cantor... tem uma confusão grande. E sim, tem os artistas de verdade, que as vezes não tem vez aqui. Ao invés você disse que no Brasil o público é muito ativo

Não é uma critica que eu estou fazendo, é um discurso cultural. Creio que na Itália a pessoa tem uma distância da música. No Brasil as pessoas já a tem no DNA, é maravilhoso de ver, tenho tantos amigos que me seguem, grupos que sabem mais da minha vida do que eu mesma. (risos). Até coisas que eu não sabia, acham matérias desconhecidas, é maravilhoso, estou falando por exemplo do Stesa sul Sofà ( :) ), que é não só um fã clube, mas uma fonte biográfica!



Até você vai atrás de informações de você mesma! (risos) 

Tantas vezes! (risos)  Elas acharam uma cena de um filme, que eu fiz quando tinha 13 anos, de verdade!

Ah vou perguntar a você sobre isso, agora vamos ouvir Va bene, va bene cosi, ela é Chiara Civello.

(Toca Con una rosa)

Con una Rosa ela é Chiara Civello. Vinicio Caposella tem um lugar especial no meu coração, imagino que no seu também, é de uma sonoridade, é um grande.

Sim, com certeza...ah que pena você queria ouvir Va Bene va bene cosi... 

Não, tudo bem, estou fazendo uma propaganda e todos aqueles que querem ouvir a sua versão de Va bene cosi, de Vasco Rossi, vão ir correndo comprar seu CD, correndo mesmo.

Ah como você é estrategista! (risos)

Ah sim, queremos estratégias (risos). Queremos as datas, mas você me disse que ainda estão organizando o turnê.

Bom, a turnê estamos organizando, um período que vai de setembro em diante, mas teremos algumas apresentações, não sei ainda dizer os dias precisamente.

Ah sim, sem agenda não se pode falar nada, mas tudo se pode encontrar na sua pagina oficial do Facebook.

Sim que é Chiara Civello Official, comunicaremos todas as datas através do facebook, que está sempre muito ativo, com datas, promoções, hashtags, coisas interessantes.

E entre isso eu soube que na sua pagina tem um “concurso” muito interessante, muito fofo, que vai até 30 de maio, se não me engano, que se pode mandar uma foto com o CD numa paisagem do lugar que mora.

Ou pode ser numa paisagem bela, que a pessoa goste...

E se participa desse concurso...

Sim, nos países que o álbum ainda não chegou pode-se tirar a foto com #chiaracivello #canzoni, em uma paisagem bonita, e no álbum da minha pagina já tem várias fotos muito lindas, por exemplo, #chiaracivello no Cristo Redentor, de Rosilene, e passando, vemos outras, creio que essa foto é em um museu em Barcelona, e esse outro em Lisboa. E provavelmente faremos assim: quem já tem o disco receberá uma foto com autógrafo e quem não tem receberá um CD...

Sim, são fotos muito bonitas

Sim são fotos muito fofas!

Esta outra foto de Bianca em uma paisagem belíssima, com o CD e sempre tu em pé na foto (risos) muito linda

Obrigada!

E uma coisa que percebo que está se perdendo é esse requinte do álbum, desde a capa, até o encarte, porque agora se vende o single em formato digital, e tem gente que não se importa, mas não, isso tudo conta muito...

Tudo é importante, tudo ajuda e contribui.

Escuta, quem foi o fotógrafo da foto de capa?

Essa vez eu chamei um grande fotógrafo, de cinema, que é Fabio Lovino, que embarcou comigo na missão de não fazer uma coisa fashion, e elaboramos um conceito que foi inspirado, no filme Metti una sera a cena, foi quase um remake.



Sim, é uma linda capa, muito elegante, e agora, quando você falou sobre o fotógrafo de cinema, lembrei do filme que você comentou (risos). Eu ia falar sobre cinema, sobre trilhas sonoras de filmes, e ai descobri que você já atuou em um filme!

(risos) Eu fiz apenas uma cena, e foi muito engraçada, porque era a cena de uma adolescente que fuma pela primeira vez (risos)

E você fuma?

Não...não, sou uma fumante social, quando tenho companhias, um cigarro e tal... e era perfeito porque eu também nunca tinha fumado aos 12 anos, então foi como uma cena real mesmo (risos)



Bem, e trilha sonora de filmes, você gosta? Suas músicas cabem muito bem em trilhas de filmes.

Sim, tem muito cinema dentro deste disco. Eu e Nicola somo apaixonados por cinema, por exemplo, Metti una sera a cena, como eu recém falei, também trilhas de Rita Pavone, Bacaloff, Milliacci, que é Che me importa del mondo, que é a trilha do filme La noia, onde tem uma cena belíssima de Catherine Spaak, que dançava sob uma vista maravilhosa, é de 1964 acho, é cantada na versão em espanhol. E tem tantas outras coisas que representam o cinema italiano.

Sim, é importante, gostou do ultimo filme que assistiu?

O último que assisti não é recente, é de 65, espetacular, com Stefania Sandrelli, que é Io La conoscevo bene, que é belíssimo, tem muitas musicas italianas, não somente, tem uma belíssima canção de Sergio Endrigo, Mani bucate, a historia é muito triste, mas é um grande filme.

E algum outro mais recente, no cinema?

Eu vi todos os filmes do Oscar, gostei muito de Clube de Compras Dallas, O lobo de Wall Street, gostei de vários.

E o Oscar que a Itália ganhou, concorda ou não? (melhor filme estrangeiro)

Eu sou absolutamente a favor, porque é muito importante para a Italia, penso que Sorrentino (Paolo Sorrentino) fez belos filmes, o meu preferido é o primeiro que é maravilhoso, que se lembro se chama L ´uomo in più (2001), muito bonito, sim e como não ser a favor de um Oscar do próprio país? 

Eu também, mas sabe que passamos vários dias debatendo e vários ouvintes eram contra... pra mim foi um belo filme, não o melhor, mas... mas se um dia: Chiara Civello e Oscar de melhor canção, quem você agradeceria? “E o Oscar vai para Chiara Civello!”

(risos) Eu não sou muito boa com esses improvisos, mas certamente agradeceria a todos que tivessem me ajudado naquela canção, pessoas que estavam comigo em momentos importantes da minha vida. Obviamente minha família, minha nonna Bianca que me introduziu à música, a lista seria longa, mas eu não faria aqueles discursos longos, melosos e dramáticos... eu não...

Disse um professor hoje que essa nostalgia, faz parte da mente dos italianos, porque há tantas músicas que falam dela.

Olha, eu sou muito romântica, sentimental, e às vezes muito emocional, as características italianas eu tenho todas. Neste disco, por exemplo com Nicola Conte, nós fizemos um tributo, que não dependia de “gritos”, de pressão da voz, em resumo, é meio que ao contrário da tendência do típico canto italiano, das músicas italianas, e essa tendência ao melodrama eu a tenho naturalmente, mas, neste disco, nós o fizemos aos “sussuros”.

Agora ouviremos uma canção que Chiara resgatou, se não me engano, do início dos anos 2000....

[Mentre tutte scorre]

Chiara Civello, esse disco é todo para descobrir! Então, andem, corram para comprar e ouvir e depois façam a foto com #canzoni #chiaracivello... Bom Chiara, teus contatos, teu site:

Chiaracivello.com, Chiara Civello Official

Ali vocês encontraram as datas do tour e apresentações, e nos avise também quando estará se apresentando em Roma.. Te agradeço por estar com nós. Agora o último favor que te peço, Chiara, se torne a DJ e escolha a última música que iremos ouvir aqui...

A canção que quero ouvir agora é um tributo a um dos grandes, Sergio Endrigo, Eu, Chiara em dueto com Chico Buarque em Io che amo solo te

Verdadeiramente perfeito...

Obrigada...


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Il Fatto Quotidiano: "A música para reviver"



 Il Fatto Quotidiano 12 maio de 2014

O mundo na sua voz
Civello, a estrela antistar: A música para reviver
A sua música é um trem que viaja na contramão: chega a Itália, mas parte de longe, América do Norte e Brasil. Contramão porque é lá longe, do outro lado do oceano, que Chiara Civello, romana de nascimento, porém itinerante de moradia, 37 anos, começou a compor canções. Sempre lá, em Boston, estudou música, mas a tem no DNA, herdado da sua avó, que tocava harpa e piano, e que transmitiu a Chiara geneticamente este desejo criativo. Colocando-a em frente ao piano e estimulando a abertura mental para a imaginação, enquanto ela, a nonna, acabava os afazeres domésticos. Chiara descobriu as notas assim, enquanto tocava sozinha as teclas brancas e negras do piano. As primeiras lições de solfejo aprendeu entre a sala e a cozinha. Coração de avó, a mítica Bianca, disse para os pais: façam-na estudar porque tem ouvido musical. E assim se fez: adolescente, Chiara se inscreveu em uma escola de jazz e sua primeira professora foi Edda Dell´Orso, da qual a bela voz de soprano será sempre ligada à trilha sonora do filme Giù La testa, de Ennio Morricone.

O resto fez ela própria. A coragem de partir para longe de casa, aos 18 anos, e a vontade de ter na carteira de identidade “musicista”. Com esses olhos e essa voz, estejam certos que ela conseguirá, disse então a avó. Estradas que mudam, e aviões, tantos. Em um instante muda de língua, sociedade, cultura, casa, comida e pele. É uma marca clara que para Chiara representa a conquista da independência e uma vida calibrada pelos seus esforços, seus sonhos e sua energia, que quanto mais consome, mais gera. Agora de volta a Roma, depois de ter colaborado com artistas de meio mundo, Chiara lança o primeiro álbum como intérprete chamado Canzoni. Feito com o melhor da música italiana, que termina com Arrivederci, letra e música de Umberto Bindi. Com a voz macia, de tons aveludados, e um caminho que nem Bindi consegue explorar. Porque ela é a intérprete, não mera executora. Ela trata as canções com o devido respeito, as trata com cuidado, mas depois as torna uma coisa sua, não uma cópia da cópia. 



Trilhou seu caminho nos bares e restaurantes de Boston e Nova York, enquanto os clientes tomavam seu brunch: Não me importava se o público estivesse distraído com o seu ovo ou o bacon – conta ao Fatto, em um lindo dia que respira o início do verão, sentada em um bar nas proximidades da praça Vittorino em Roma – Eu, naqueles palcos, dava tudo de mim. E em certo ponto, de repente, as pessoas deixavam o seu café para ouvir a nossa música. E ela, todas as semanas, reinventava as canções suas e de outros artistas. E, basta um encontro, se tem a voz e a fantasia, pode se permitir tudo. Com este trabalho reavi minhas raízes italianas, a música que me acompanha desde sempre. Há também Vasco Rossi, uma homenagem a Enzo Jannacci e também a Sergio Endrigo, o maior autor italiano. Mas procurei fazer do meu jeito e retransmitir as canções como a minha voz pode fazer. Interpretei, e considero uma pausa, mas nasci como compositora e cantora. Os primeiros testes foram feitos com músicas minhas. Também coloquei o meu som, não apenas a voz. Eu quis tocar como toco todo o resto, o repertório italiano. 

E assim nasceu Canzoni, um disco italiano com sound internacional. Entre os intérpretes encontramos Chico Buarque e Gilberto Gil, que aceitaram o convite de Chiara e a ajudaram na sua missão: solidificar a maravilhosa ponte musical entre Itália e Brasil feita de verdadeiras obras-primas. 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Revista Suono e Ritratti di Notte destacam a elegância do Canzoni



Suono

Na voz de Chiara Civello habitam tons de emoção, um equilíbrio entre doçura e sensualidade que faz o nosso coração sorrir. Um prazer que devagar vai nos invadindo e nos deixando sem força, cheio de alegria. 

Passaram-se nove anos desde a estreia de Last Quarter Moon, um intervalo repleto de experiências. Agora com seu quinto álbum Canzoni, Chiara inicia outra viagem, coloca à prova sua veia artística e a si mesma, buscando inspiração na imensidão de canções que são parte dela e acompanham a trajetória de todos os nossos artistas: a música italiana.

A seleção das dezessete canções foi feita sendo fiel a tudo que a marcou no seu percurso, uma antologia de composições de lembranças de uma vida, e que na nova interpretação mostraram uma face inesperada até então escondida. 

Na realização deste trabalho a contribuição de Nicola Conte, refinado DJ e produtor e do engenheiro de som Tommy Cavalieri foram de suma importância. 

O fruto disso é um soube elegante e sedutor, que integra o soul à bossa nova e ao jazz, até o pop internacional. Os convidados que custam com Chiara são artistas consagrados: Ana Carolina, Chico Buarque, Gilberto Gil e Speranza Spalding.

A intenção da intérprete romana era evitar o impacto nostálgico, condensando o soul que adquiriu ao longo de sua carreira internacional e transferindo-o ao repertório italiano. O disco foi gravado entre Rio de Janeiro e Bari, os esplêndidos arranjos feitos por Eumir Deodato e acompanhamento da Orquestra Sinfônica de Praga, formada por musicistas de todo o mundo.


Ritratti di Notte




Canzoni: Chiara Civello reinventa os grandes clássicos da música italiana

É o título do quinto álbum de estúdio da cantora e compositora Chiara Civello, que pela primeira vez é apenas a intérprete de alguns dos grandes sucessos da música italiana. Com a produção artística de Nicola Conte, arranjos de Eumir Deodato e acompanhada pela orquestra sinfônica de Praga, o resultado se percebe rápido e claramente: Canzoni é um disco elegante. 

Inovando através das múltiplas referências musicais e homenagenado o cinema italiano dos anos 60 e 70, o disco faz uso de uma matéria prima específica: se trata de algumas das mais belas e famosas canções italianas que fazem parte dos anos de ouro da música italiana, mas com uma grande remodelação de sons e idéias: o soul se mistura com a bossa nova, o blue eyed soul ao jazz e ao pop internacional, tornando o trabalho ainda mais rico com as prestigiosas contribuições de artistas de respeito como Gilberto Gil, Chico Buarque, Ana Carolina e Esperanza Spalding. 

Chiara Civello soube redistribuir as cartas na mesa: muito conhecida no mundo, graças a sua particular voz, a artista seguiu o conceito temático do amor para compor um trabalho que pudesse conter a sua concepção das músicas, e, ao mesmo tempo, homenagear as origens da sua cultura.

Leve, fluido, aveludado e agradável, Canzoni representa a ocasião para reencontrar as 17 músicas inesquecíveis. 



Chiara Civello não se impõe limites, a sua voz passeia do sussuro persuasivo ao som mais intenso, equilibrando sempre a harmonia dos opostos.

sábado, 10 de maio de 2014

Entrevista para o site Velvet Music!


Chiara Civello: “ Vasco escreve letras admiráveis. Sanremo 2015? Pode ser...”





Velvet.it – 09 maio 2014

Um disco perfeito para levar nas férias. Imagine aquela longa viagem de carro, com a costa que te seduz e atrai: os mares do sul, o nosso sul, que terão maior força evocativa, se dirigir ao som do último álbum de Chiara Civello, Canzoni. Há meio século Carlo Levi dizia (e escrevia): O futuro tem um coração antigo. O que é um pouco o coração do novo trabalho da cantora e compositora romana, nômade por instinto, passional e nostálgica por natureza. Chiara retornou a Itália após longa temporada no exterior (EUA e Brasil) e com a ajuda do notável jazzista Nicola Conte, queria prestigiar a grande canção italiana dos anos 60 com 17 canções covers, enriquecidas com notas contemporâneas.

É extraordinário, canções como Va bene cosi de Vasco Rossi ou Mentre tutto scorre de Negramaro, parecem ter sido escrita há pouco tempo com a mão de Chiara, capaz de dar um sentido diferente à canções que foram cristalizadas em uma só versão.

Canzoni estreiou com o primeiro lugar na classificação de álbum jazz do Itunes, e entre os dez melhores álbuns. Aplaudo Chiara por como ela conseguiu mexer em obras primas de Mina e Battisti (Grande grande grande e E penso a te) sem afetá-los: isso também um grande feito. No disco também artistas de excelência como Chico Buarque, Gilberto Gil, Ana Carolina e Esperanza Spalding: do Brasil à América do Norte, uma viagem.

Uma pessoa sempre em viagem: para descobrir coisas novas, ou como diz, sempre um reencontro consigo?
Chiara: Acredito que viajar é fundamental para compreender aquilo que está entorno à nós, sobretudo para conhecer melhor a nossa alma, os nossos sentimentos. Eu cresci musicalmente longe da Itália, com um pop sofisticado, os intérpretes americanos, e na minha música sempre há uma certa “sofisticação” do clássico pop. Agora estou satisfeita: com este disco trouxemos o mundo à Bari, exímios musicistas para o estúdio analógico de Nicola Conte, e ali começou uma nova aventura, uma longa viagem.

Neste momento te sente mais intérprete que compositora? E se sim, com quais autores contemporâneos você gostaria de colaborar?
Chiara: Canzoni provavelmente será o início de um caminho paralelo do meu trabalho. Não posso renunciar o meu “ser” compositora, está no meu DNA. Mas tenho tanta vontade, agora que estou novamente aqui na Itália, de me aproximar ao universo dos jovens autores. Mas não tenho nomes específicos, tempo ao tempo. O próximo projeto é fazer um disco de inéditas com um sound parecido com este trabalho.

Qual foi o critério na escolha das músicas em Canzoni?
Chiara: Bom, é um trabalho que nasceu há tempos, desde quando, no exterior, cantava e tocava algumas dessas músicas. Ali entendi que podia dar certo. Aos grandes clássicos adicionei um pouco de música contemporânea, e foi uma escolha feita pelo meu coração... deixei fora Dalla e Tenco, um pecado. È possível que mais adiante este trabalho tenha um segundo volume.

No disco há também Gilberto Gil e Chico Buarque: eles são apaixonados pela música italiana antiga...
Chiara: Naquele tempo a nossa música era muito apreciada porque tinham personagens, como Sergio Bardotti, que eram capazes de fazer essa ponte sensacional com o exterior: tinha mais reciprocidade e interesse. Sabe o que penso? Que hoje as produções pop italianas tem um som marcadamente “italiano”, e é aí que está a diferença: hoje se perdeu aquele olhar mais itinerante do italiano...

Vasco Rossi e Negramaro: como você teve essa idéia de fazer um cover jazz também desses autores?
Chiara: Procurei dar outro olhar à estas canções, não mais belo, mas diferente: as traduzi ao meu modo, também com liberdade de interpretação. Não queria ser invasiva e tão menos agressiva: Vasco é imediato nas letras, escreve coisas admiráveis, em algumas canções é quase iluminado. Va bene cosi possui um soulblack, eu quis refazer com esta nova veste.

Quando o álbum foi lançado, você falou que não era um disco nostálgico. Dito isso, não se pode negar que muitas das músicas possuem um mood mais melancólico, quase um recolhimento. E você, Chiara, como é?
Chiara: Eu sou terrivelmente melancólica, se entende isso pelas músicas que amo e que escuto desde sempre. Não tenho arrependimentos, mas vivo também em função do passado, porque o passado é a nossa história. Sobretudo vivo com amor: creio que o amor é, e deve ser, a base de tudo.

Uma vez, Renzo Arbore (arista italiano) me disse que hoje há muita qualidade no jazz, mas que talvez seja um pouco pretensioso. O que acha? 
Chiara: De um lado estão os Standard do jazz que são intocáveis, atemporais e irrepetíveis. Mas, andando pelo mundo, sempre pude apreciar o jazz que é capaz de “mudar as coisas”, de entusiasmar o público através da qualidade e inovações. Por exemplo, Esperanza Spalding. Na Itália adoro Cafiso, mas em especial Stefano Bollani e Joe Barbieri: alto nível.

Sanremo 2015, o que pensa?
Chiara: Com a música certa, por que não? Talvez escrita por um dos autores contemporâneos que falamos antes. Pode ser o início de uma nova aventura. Vamos ver.

Qual é a sua canção guardada, aquela ligada a uma lembrança do passado?
Chiara: Agora assim me vem na mente “Fiore di maggio”, de Fabio Concato: eu era criança, eu cantarolava com meu pai, no mar da Sicilia. Te digo outra: quanto era bonito o “Valzer di Lupin III”? (risos) (trilha sonora de um desenho animado muito famoso).


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Il Giorno fala do Canzoni como uma "pequena obra prima fluida e revolucionária".


Il Giorno
As canções de Chiara com Chico, Gil, Ana, Itália e Brasil de autores
Nicola Conte produz uma grande Civello

Chiara. Finalmente me agrada. É lançado Canzoni, o álbum nascido entre Brasil, NY, Roma e Bari, produzido pelo gênio internacional Nicola Conte. Cantora e compositora adorada na América, Chiara fez grande sucesso no Brasil com Maria Gadu e Ana Carolina, esta última a acompanha em E penso a te de Mogol Battisti. 

Eles são meus mitos – Gil e Chico – diz Chiara, feliz. – Não foi difícil: quando eles escutaram nossos trabalhos, na hora adoraram os arranjos de Eumir Deodato e a produção de Nicola. Chamei também Caetano Veloso, mas ele estava em turnê. O Brasil que amou os nossos anos 60, era um filtro cultural adequado para o produto global nada trivial. Aquele mundo Chico encontrou em Roma. Propus a ele Il mondo di Fontana e Io che amo solo te. Ele em cinco segundos: canto Sérgio.

Incantevole de Subsonica e Mentre tutto scorre di Sangiorgi e Negramaro: são razões para que tenham álbuns no mercado italiano, nos revoltamos da nossa maneira. Como Va bene cosi, de Vasco Rossi – me pediram para canta-la no especial da Rai. O tropicalista Gilberto Gil a acompanha em Io che amo solo te, de Pino Donaggio, Ana Carolina, nouvelle vague, canta E penso a te, Esperanza Spalding em Mulini dei ricordi. Fortissimo e Metti una sera a cena são tributos às músicas orquestrais jazz e bossa nova.

Grande, grande, grande – um outro desafio, mas em inglês. Una sigaretta um blues da torch song. Arrivederci , uma noite cool de Bussolotto. Nicola tem dentro dele esses sons, me encheu de musicistas que deram o seu melhor, ele trabalha em um estúdio analógico. As duas pré-estréias a Locorotondo e Bari com orquestra foram incríveis. 

Fluido e revolucionário, Conte assina uma pequena obra prima na qual a voz de Chiara mergulha feliz. Sem nenhum erro, não digo de técnica, mas de gosto. Gaetano Partipilo, sax alto e tenor, e Magnus Lindgren, sax tenor e flauta, com ritmos elegantes. Via con me, di Paolo Conte, é o ínicio da subida, Con una rosa , a primeira surpresa. Senza fine, de Paoli, o standard perfeito 3/4. 

Chiara nunca cantou assim tão profundamente entre letra e música. Muito bonito.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Entrevista ao Il Manifesto!

Prosseguindo nas traduções da onda de entrevistas para a divulgação do Canzoni: 





IL MANIFESTO, 07 maggio 2014

“Releio Ennio Morricone como se fosse bossa nova”
Chiara Civello – um CD de covers com Nicola Conte


Até então escondendo seu talento como intérprete, preferindo concentrar-se na face autoral – como demonstram os cinco álbuns gravados até aqui. Romana porém com estada em terras americanas, e repetidas passagens brasileiras, nutre uma paixão sem igual pelos clássicos e pela canção italiana, com preferência pelos anos 60 e afins – Sempre fui fã dos standard (clássicos) – explica – é como na literatura quando você quer escrever e escrever melhor, mais livros lê, e faz o melhor no texto. 

Canzoni é o titulo do seu sexto trabalho recém lançado, e desta vez se coloca como intérprete. Dezessete músicas do repertório de Endrigo, Battisti entre outros, produzido juntamente com Nicola Conte, gravado entre NY, Rio de Janeiro e Bari. A parte musical, a cereja do bolo, foi registrada com nada menos que com o gênio de Eumir Deodato.

Tinha vontade de reexplorar a minha parte intérprete. Logo depois que me formei em Berklee em NY, fiz substancialmente isso. Mas queria fazer isso com músicas italianas, porém tentando liberar as músicas dessa parte mais melodramática e jogar mais com sons, e arranjos mais arejados. 

A musas inspiradoras são as vozes de Dusty Springfield, a rainha da white soul americana e Julie London, dona de uma maravilhosa voz que soa a jazz e cigarros.

Nicola Conte foi fundamental neste precioso trabalho de pesquisa e busca. Encontramos o equilíbrio entre o soul, o Brasil e a melodia italiana. Parti de quarenta músicas e após cheguei a quinze, e nos esforçamos para imaginar aquelas músicas refeitas em outro estilo.

Foi um trabalho que funcionou perfeitamente, como por exemplo em Metti una sera a cena di Ennio Morricone, o arranjo ao estilo bossa nova, a junção dos vocais e as cordas de Deodato deram a uma das obras primas do maestro uma outra e interessante perspectiva. 

A voz da cantora, a primeira italiana contratada pela Verve (em seu primeiro disco) encontra novas nuances e tons inesperados, como em Que me importa el mundo di Bruno Canfora escrito por Rita Pavone ou em Il Mondo di Bindi, onde evita cair em armadilhas e prefere calibrar a voz quente e intimista.

No disco quatro parcerias escolhidas a dedo: Porque todas as músicas precisavam deste intérprete. Gilberto Gil em Io che non vivo senza te, Chico Buarque quis recordar o amigo Endrigo em Io che amo solo te. Esperanza Spalding na única cover não italiana, The Windmills of Your Mind. “Descobri a música em uma versão de Jannacci que seu filho traduziu brilhantemente e resolvi homenageá-lo”. A amiga, cantora e compositora brasileira Ana Carolina quis, ser parceira em E penso a te de Battisti: uma vez eu toquei a musica no violão e ela se apaixonou loucamente. Quando ela entendeu o toque que eu queria dar me ameaçou: ou me chama para cantar com você ou esta música gravo eu!”

Entrevista ao Ansa.it!

Também na ocasião do lançamento do Canzoni, que está em primeiro lugar dentre os discos de Jazz no Itunes! <3 

"Meu tributo ao repertório italiano. Esta vez sou somente intérprete."
Vídeo da entrevista neste link.





Uma homenagem ao repertório italiano, de respiro internacional, mas que ao mesmo tempo mantém sua experiência e seu percurso artístico. A cantora e compositora romana Chiara Civello, em quinto trabalho em estúdio, lançado hoje pela Sony Music, com uma diferença em relação aos outros: “É o meu primeiro disco como intérprete. Decidi reunir tudo o que amava e mostrar." 

Chiara diz: “Ao meu modo, apresentando as canções com menos dramaticidade e com ar mais cool, seguindo a tradição dos intérpretes americanos. Sobretudo em um momento de promessas e mudanças para Itália, como este em que estamos vivendo”. O resultado é um disco com 17 músicas de artistas símbolos da cena musical das últimas décadas – mas mostrando uma visão da Itália um pouco mais atual ao exterior. “Escolhi fazer um disco de canções italianas – destaca a artista que já pensa no próximo álbum de inéditas – agora que encontrei a sonoridade ideal – que vai dos anos 60 até hoje: de Bindi a Vasco Rossi, de Subsonica a Pino Donaggio a Jimmy Fontana. Também há uma homenagem a Enzo Jannacci.”

“É um disco que não podia sonhar mais, porque tive a participação de pessoas incríveis, na produção e execução das músicas. Juntamente com Chiara o disco conta com participação de artistas de calibre como Gilberto Gil, Chico Buarque, Ana Carolina e Esperanza Spalding, que deram voz e talento a este tributo. Os três primeiros são brasileiros, Chico e Gil não necessitam descrição, Ana Carolina é a estrela do pop no Brasil, enquanto Esperanza é estrela do jazz na América do Norte. Não poderia querer mais, o conceito Itália a nível pessoal. Foi um presente muito bonito. O fio condutor das músicas do disco é o amor – mas não somente o amor feliz, o amor em todas as suas faces. O amor que nos faz viver, é a medida que faz nos relacionar com a vida. Sem amor, o que somos?”

É o que diz Chiara, que entre as 17 canções, não quer e não pode escolher uma em particular: “Todas são profundamente ligadas ao meu coração e à minha existência.” A produção artística é de Nicola Conte (o produtor mais apropriado a deixar este repertório com um sound mais internacional), os arranjos feitos por Eumir Deodato, e o álbum foi gravado com a orquestra sinfônica de Praga. 

Chiara participou também do festival de Sanremo (“o verdadeiro desafio foi descer aquelas escadinhas”) e está feliz de estar em casa, mas também admite: “no nosso país a música não tem a mesma importância no cotidiano como é nos outros lugares, com uma participação maior na vida criativa de um musicista. Falta espaço, não tem vitalidade. A única febre é a TV, que oferece somente imediatismo. Os talentos? A verdadeira voz artística se desenvolve com experiência. E no talento os jovens não tem nem tempo de se dar conta.“

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Matéria sobre o lançamento do Canzoni no jornal La Sicilia, traduzida!

Hoje foi lançado mundialmente o novo álbum da Chiara, "Canzoni", que já pode ser ouvido em todas a plataformas streaming e de download digital. Soubemos em primeira mão que um lançamento oficial no Brasil está sendo agendado, além de realces na divulgação em âmbito internacional como um todo, então vamos aguardar, claro, sempre ouvido esse CD que já está bombando na mídia italiana! 

Tanto que a edição de hoje do jornal La Sicília dedicou meia página somente para contar detalhes sobre a produção e lançamento do álbum, como vocês podem ler em português abaixo: 



La Sicilia – 06 maggio 2014

"Uma alma nova para clássicos italianos"

Sonoridade internacional para imortais de ontem e de hoje

Giuseppe Attardi


A cantora de origem modicana transporta melodias clássicas da nossa história musical entre as praias do Brasil e as estradas de Harlem. Soul, jazz, bossa nova e duetos vip emocionantes.

Chiara Civello é uma nômade da música. Estudou na mítica Berklee College, que continua produzindo talentos do jazz internacional. Lá em Boston se apresentou em toda parte, restaurantes, casamentos. Depois NY, o primeiro contato com a prestigiosa Verve, um álbum que entre outras há Trouble, música escrita juntamente com Burt Bacharach. Após o Brasil, para onde se transferiu para entender os segredos de uma outra extraordinária escola de vida e de música, por onde se apaixonou pela bossa nova.

Porém há algum tempo começou a sentir o chamado das raízes. O pai siciliano de Modica – “vivi na Sicilia quando criança, relembra” - , a mãe da Puglia, ela nascida em Roma em 1975, Chiara sente saudades da sua terra.



Em 2012 lança o álbum “Al Posto Del Mondo”, um disco com músicas em italiano. “É um pouco o álbum do meu retorno à casa”, conta – “ Em algum momento senti dentro de mim que crescia o interesse, o amor por aquilo que é muito italiano que é a melodia. Sempre mais escrevo em italiano. E também era o que o público desejava ouvir de mim, porque sou italiana. Devagar eu observava o quanto era complicado viajar o mundo todo sem ter uma uma relação mais próxima com o grande público do meu país.” Para isso, decide se mostrar para o público sanremense, - “ experiência que repetirei” – mesmo sabendo que este passo foi carregado de tensão e desapontamento.

Dois anos depois, a cantora apaixonada por bossa nova retorna com outra declaração de amor ao encontro da melodia italiana. E hoje lança o disco Canzoni, no qual se apresenta como intérprete na intenção de dar um toque internacional aos clássicos da música nacional de ontem e de hoje. Com voz quente e envolvente, Chiara se apropria da contiana Vieni via con me à Arrivederci di Umberto Bindi. Do ritmo contagioso da sedução de Con una rosa, de Vinicio Capossela, à melancolia com Io che amo solo te, di Endrigo, em um dueto emocionante com Chico Buarque, do beat soulful de Io che non vivo senza te, com Gilberto Gil, à passional E penso a te, de Battisti e Mogol, cantada juntamente com Ana Carolina e o desencanto um tanto ingênuo de Metti una sera a cena, di Enrico Morricone.

Ainda a sedução conduzida quase na auto-ironia de Una sigaretta de Fred Buscaglione, a sensibilidade pungente de Il Mondo, de Jimmy Fontana, a sensualidade de Fortissimo, de Lina Wertmuller, a leveza sentimental de Che m`importa del mondo, que Chiara escolhe cantar em espanhol. A estas se juntam algumas canções italianas mais recentes, de Vasco Rossi, Negramaro e Subsonica, talvez os momentos menos convincentes do álbum.

Um disco onde prevalece o vintage, a canção clássica dos anos 60. Talvez porque foi o período de ouro da nossa música?
Chiara – O disco nasceu como uma antologia moderna da canção italiana, mas uma abertura internacional. No mundo são as músicas mais conhecidas. Das mais recentes, escolhemos apenas cinco músicas.

Entre as 17 faixas, a exceção é I mulini dei ricordi em dueto com Esperanza Spalding, tradução em italiano para uma canção estrangeira: The windmills of yormind, di Michel Legrand.
Chiara – Já foi interpretada por grandes nomes como Dusty Springfield, Sting e tantos outros. É uma das minhas músicas favoritas, tanto pela letra quanto pela música sublime de Legrand. Com esta idéia de fazer uma versão italinam um dia, pesquisando no Google, descobri que já foi cantada por Enzo Jannacci uma versão de seu filho Paolo, muito bonita e fiel à original. Jannacci faleceu a pouco e sem pensar duas vezes decidi homenagear tanto ele quanto Dusty e Legrand.




Chico Buarque: Com ele Chiara canta Io che amo solo te. Era amigo de Sergio Endrigo. É um dos momentos mais emocionantes de todo o disco
Esperanza Spalding: Em "I mulini dei ricordi", única canção não italiana do disco: "The Windmills of Your Mind", uma música de Michel Legrand. 
Gilberto Gil: Em Io che non vivo senza te. No refrão Gil se comoveu e também. Naquele momento entendemos que conseguimos entrar de verdade no coração desta canção.

Como surgiram as colaborações com Chico Buarque, Gil e os outros convidados?
Chiara – Para mim era um sonho envolvê-los e representa a confirmação o valor deste projeto. Primeiramente com Nicola Conte (produtor artístico), escolhemos as músicas, e depois de dar uma versão inovadora, internacional, soul jazz com ecos brasileiros, saindo um pouco do melodrama. Quando Eumir Deodato deu o ok, mostrei a Chico e Gil. Eles adoraram e foi muito gratificante que tenham aceitado com entusiamo cantar as canções comigo.