sexta-feira, 16 de maio de 2014

Il Fatto Quotidiano: "A música para reviver"



 Il Fatto Quotidiano 12 maio de 2014

O mundo na sua voz
Civello, a estrela antistar: A música para reviver
A sua música é um trem que viaja na contramão: chega a Itália, mas parte de longe, América do Norte e Brasil. Contramão porque é lá longe, do outro lado do oceano, que Chiara Civello, romana de nascimento, porém itinerante de moradia, 37 anos, começou a compor canções. Sempre lá, em Boston, estudou música, mas a tem no DNA, herdado da sua avó, que tocava harpa e piano, e que transmitiu a Chiara geneticamente este desejo criativo. Colocando-a em frente ao piano e estimulando a abertura mental para a imaginação, enquanto ela, a nonna, acabava os afazeres domésticos. Chiara descobriu as notas assim, enquanto tocava sozinha as teclas brancas e negras do piano. As primeiras lições de solfejo aprendeu entre a sala e a cozinha. Coração de avó, a mítica Bianca, disse para os pais: façam-na estudar porque tem ouvido musical. E assim se fez: adolescente, Chiara se inscreveu em uma escola de jazz e sua primeira professora foi Edda Dell´Orso, da qual a bela voz de soprano será sempre ligada à trilha sonora do filme Giù La testa, de Ennio Morricone.

O resto fez ela própria. A coragem de partir para longe de casa, aos 18 anos, e a vontade de ter na carteira de identidade “musicista”. Com esses olhos e essa voz, estejam certos que ela conseguirá, disse então a avó. Estradas que mudam, e aviões, tantos. Em um instante muda de língua, sociedade, cultura, casa, comida e pele. É uma marca clara que para Chiara representa a conquista da independência e uma vida calibrada pelos seus esforços, seus sonhos e sua energia, que quanto mais consome, mais gera. Agora de volta a Roma, depois de ter colaborado com artistas de meio mundo, Chiara lança o primeiro álbum como intérprete chamado Canzoni. Feito com o melhor da música italiana, que termina com Arrivederci, letra e música de Umberto Bindi. Com a voz macia, de tons aveludados, e um caminho que nem Bindi consegue explorar. Porque ela é a intérprete, não mera executora. Ela trata as canções com o devido respeito, as trata com cuidado, mas depois as torna uma coisa sua, não uma cópia da cópia. 



Trilhou seu caminho nos bares e restaurantes de Boston e Nova York, enquanto os clientes tomavam seu brunch: Não me importava se o público estivesse distraído com o seu ovo ou o bacon – conta ao Fatto, em um lindo dia que respira o início do verão, sentada em um bar nas proximidades da praça Vittorino em Roma – Eu, naqueles palcos, dava tudo de mim. E em certo ponto, de repente, as pessoas deixavam o seu café para ouvir a nossa música. E ela, todas as semanas, reinventava as canções suas e de outros artistas. E, basta um encontro, se tem a voz e a fantasia, pode se permitir tudo. Com este trabalho reavi minhas raízes italianas, a música que me acompanha desde sempre. Há também Vasco Rossi, uma homenagem a Enzo Jannacci e também a Sergio Endrigo, o maior autor italiano. Mas procurei fazer do meu jeito e retransmitir as canções como a minha voz pode fazer. Interpretei, e considero uma pausa, mas nasci como compositora e cantora. Os primeiros testes foram feitos com músicas minhas. Também coloquei o meu som, não apenas a voz. Eu quis tocar como toco todo o resto, o repertório italiano. 

E assim nasceu Canzoni, um disco italiano com sound internacional. Entre os intérpretes encontramos Chico Buarque e Gilberto Gil, que aceitaram o convite de Chiara e a ajudaram na sua missão: solidificar a maravilhosa ponte musical entre Itália e Brasil feita de verdadeiras obras-primas.