sábado, 10 de maio de 2014

Entrevista para o site Velvet Music!


Chiara Civello: “ Vasco escreve letras admiráveis. Sanremo 2015? Pode ser...”





Velvet.it – 09 maio 2014

Um disco perfeito para levar nas férias. Imagine aquela longa viagem de carro, com a costa que te seduz e atrai: os mares do sul, o nosso sul, que terão maior força evocativa, se dirigir ao som do último álbum de Chiara Civello, Canzoni. Há meio século Carlo Levi dizia (e escrevia): O futuro tem um coração antigo. O que é um pouco o coração do novo trabalho da cantora e compositora romana, nômade por instinto, passional e nostálgica por natureza. Chiara retornou a Itália após longa temporada no exterior (EUA e Brasil) e com a ajuda do notável jazzista Nicola Conte, queria prestigiar a grande canção italiana dos anos 60 com 17 canções covers, enriquecidas com notas contemporâneas.

É extraordinário, canções como Va bene cosi de Vasco Rossi ou Mentre tutto scorre de Negramaro, parecem ter sido escrita há pouco tempo com a mão de Chiara, capaz de dar um sentido diferente à canções que foram cristalizadas em uma só versão.

Canzoni estreiou com o primeiro lugar na classificação de álbum jazz do Itunes, e entre os dez melhores álbuns. Aplaudo Chiara por como ela conseguiu mexer em obras primas de Mina e Battisti (Grande grande grande e E penso a te) sem afetá-los: isso também um grande feito. No disco também artistas de excelência como Chico Buarque, Gilberto Gil, Ana Carolina e Esperanza Spalding: do Brasil à América do Norte, uma viagem.

Uma pessoa sempre em viagem: para descobrir coisas novas, ou como diz, sempre um reencontro consigo?
Chiara: Acredito que viajar é fundamental para compreender aquilo que está entorno à nós, sobretudo para conhecer melhor a nossa alma, os nossos sentimentos. Eu cresci musicalmente longe da Itália, com um pop sofisticado, os intérpretes americanos, e na minha música sempre há uma certa “sofisticação” do clássico pop. Agora estou satisfeita: com este disco trouxemos o mundo à Bari, exímios musicistas para o estúdio analógico de Nicola Conte, e ali começou uma nova aventura, uma longa viagem.

Neste momento te sente mais intérprete que compositora? E se sim, com quais autores contemporâneos você gostaria de colaborar?
Chiara: Canzoni provavelmente será o início de um caminho paralelo do meu trabalho. Não posso renunciar o meu “ser” compositora, está no meu DNA. Mas tenho tanta vontade, agora que estou novamente aqui na Itália, de me aproximar ao universo dos jovens autores. Mas não tenho nomes específicos, tempo ao tempo. O próximo projeto é fazer um disco de inéditas com um sound parecido com este trabalho.

Qual foi o critério na escolha das músicas em Canzoni?
Chiara: Bom, é um trabalho que nasceu há tempos, desde quando, no exterior, cantava e tocava algumas dessas músicas. Ali entendi que podia dar certo. Aos grandes clássicos adicionei um pouco de música contemporânea, e foi uma escolha feita pelo meu coração... deixei fora Dalla e Tenco, um pecado. È possível que mais adiante este trabalho tenha um segundo volume.

No disco há também Gilberto Gil e Chico Buarque: eles são apaixonados pela música italiana antiga...
Chiara: Naquele tempo a nossa música era muito apreciada porque tinham personagens, como Sergio Bardotti, que eram capazes de fazer essa ponte sensacional com o exterior: tinha mais reciprocidade e interesse. Sabe o que penso? Que hoje as produções pop italianas tem um som marcadamente “italiano”, e é aí que está a diferença: hoje se perdeu aquele olhar mais itinerante do italiano...

Vasco Rossi e Negramaro: como você teve essa idéia de fazer um cover jazz também desses autores?
Chiara: Procurei dar outro olhar à estas canções, não mais belo, mas diferente: as traduzi ao meu modo, também com liberdade de interpretação. Não queria ser invasiva e tão menos agressiva: Vasco é imediato nas letras, escreve coisas admiráveis, em algumas canções é quase iluminado. Va bene cosi possui um soulblack, eu quis refazer com esta nova veste.

Quando o álbum foi lançado, você falou que não era um disco nostálgico. Dito isso, não se pode negar que muitas das músicas possuem um mood mais melancólico, quase um recolhimento. E você, Chiara, como é?
Chiara: Eu sou terrivelmente melancólica, se entende isso pelas músicas que amo e que escuto desde sempre. Não tenho arrependimentos, mas vivo também em função do passado, porque o passado é a nossa história. Sobretudo vivo com amor: creio que o amor é, e deve ser, a base de tudo.

Uma vez, Renzo Arbore (arista italiano) me disse que hoje há muita qualidade no jazz, mas que talvez seja um pouco pretensioso. O que acha? 
Chiara: De um lado estão os Standard do jazz que são intocáveis, atemporais e irrepetíveis. Mas, andando pelo mundo, sempre pude apreciar o jazz que é capaz de “mudar as coisas”, de entusiasmar o público através da qualidade e inovações. Por exemplo, Esperanza Spalding. Na Itália adoro Cafiso, mas em especial Stefano Bollani e Joe Barbieri: alto nível.

Sanremo 2015, o que pensa?
Chiara: Com a música certa, por que não? Talvez escrita por um dos autores contemporâneos que falamos antes. Pode ser o início de uma nova aventura. Vamos ver.

Qual é a sua canção guardada, aquela ligada a uma lembrança do passado?
Chiara: Agora assim me vem na mente “Fiore di maggio”, de Fabio Concato: eu era criança, eu cantarolava com meu pai, no mar da Sicilia. Te digo outra: quanto era bonito o “Valzer di Lupin III”? (risos) (trilha sonora de um desenho animado muito famoso).