terça-feira, 3 de junho de 2014

Entrevista completa para a Radio Dimensione Musica!

No dia 19 de maio a Chiara esteve numa rádio romana para falar do novo álbum, Canzoni. Dentre as entrevistas de rádio concedidas nesse período, com certeza essa é uma das mais divertidas e diferentes. Ao longo de vários minutos a Chiara fala de filmes, música, carreira no cinema, fãs brasileiros e, como sempre, fala muito do Brasil em geral! Transcrevemos em português pra vocês. :)



Agora então teremos uma convidada especialíssima, Chiara Civello! Boa tarde! Olá, como estás?

Oi! Muito bem, boa tarde!


Então Chiara, dia 06 de maio foi lançado este álbum, se não me engano seu quinto álbum que se chama Canzoni, foi uma necessidade tua de tornar-se interprete, além de cantora e compositora.


Bom, no meu quinto álbum, me fiz duas perguntas, eu que sempre tenho vontade de descobrir coisas e caminhos diferentes, em todos os álbuns coloquei algum cover em italiano, ou alguma música que amo particularmente, por razões pessoais ou musicais ... e agora eu quis me vestir somente de intérprete e não de cantora, o que não significa que deixei de escrever canções, mas que abri um caminho paralelo, muito bonito, entusiasmante, rico, que me fez descobrir um lado que tinha em mim mas que não era dominante, o de intérprete. Também escolhi o repertório nas músicas que sou habituada como o jazz etc., no repertório italiano e escolher as músicas que podem representar tudo que eu vivi dentro das nossas canções.

Absolutamente! Não se deve achar que um álbum de cover seja apenas cover, Canzoni, não é um álbum de cover, é um disco onde você pegou canções do passado, mas também algumas músicas de um passado mais recente e refez a seu modo, mas sem alterar a essência. Quanto isso é difícil?

Se você tem a ajuda das pessoas certas, criativas, não fica tão difícil quanto parece. Eu tive a sorte e a intuição de chamar Nicola Conte como produtor e esse encontro se revelou como um casamento musical perfeito criativo, e chamamos também um grande arranjador que é o grande Eumir Deodato. Ele ama não somente os grandes crooners americanos, ele foi um dos produtores do clássico álbum de Sinatra e Jobim. E é perfeito, porque a estrutura, a arquitetura sonora foi criada em estúdio com a banda e eu me reescrevi em cima desses arranjos e fizemos a gravação em Praga, com a orquestra sinfônica, são arranjos muito bonitos, é como se colocasse tudo num tapete voador, como se tivesse dado asas às canções...

É isso mesmo que se percebe no álbum. E a tua dificuldade de escolher as músicas, porque são 17 faixas, foi difícil?

É, eu não sou boa com escolhas, ou em eliminar alguma coisas quando tudo funciona. Pensei também pela ótica desta crise [da economia italiana], que ninguém compra disco, se alguém o faz temos que ser generosos, e também ocupar todo o espaço que tem no CD. Nós, em três dias, conseguimos gravar tantas canções, a banda estava muito entrosada, ao meu redor Nicola conseguiu construir um som, exatamente como um vestido sob medida, perfeito, e eu me senti super livre para interpretar, e foram tantas músicas em tão pouco tempo que ficamos em dúvida na escolha, qual deixaríamos de fora. Fizemos também algumas versões estrangeiras, mas são à parte, para o mercado exterior

Bom, e qual foi a que você deixou de fora, por um motivo ou outro não aparece no disco?

Não, todas as músicas que eu queria assim de maneira visceral, estão [nele], e são 17 mais as versões ao todo são 21, sendo que 3 são versões em outras línguas... então estão todas... a outra pergunta é: por que estes autores...bom foi uma escolha instintiva, ligada à momentos e do feedback que Nicola me dava, nós fizemos uma lista enorme de músicas, e antes de entrar em estúdio, na pré-produção, Nicola fez um esforço imaginativo para saber o quanto poderia ser feito para dar aquele som internacional que queríamos para as canções. O feedback dele foi fundamental mas eu também não tive escrúpulos, eu falava: vamos fazer um volume 2, volume 3 (risos)

Que maravilha... eu penso que essa é a chave realmente para um ótimo trabalho em estúdio, e tem todo uma produção, que é fundamental... mas também não se por limites, porque nesse momento, não há um bloqueio artístico, e para o musico creio que é um erro muito grande. Bom... a música que vamos ouvir agora... você escolheu autores nada importantes (risos). Bom, pra mim é um dos mais belos e difíceis, você que pode me dizer melhor, mas se confrontar com um autor assim... Lucio Battisti...

É, grande Lucio Battisti, na verdade, foi muito natural porque é uma das canções mais belas, e eu viajei muito, tenho um filtro das mais belas canções, e não foi difícil cantar essa canção, ainda mais com uma voz maravilhosa como a de Ana...



Foi uma colaboração que não foi apenas boa, foi perfeita, e se não me engano, você a fez escutar a música no carro.

Aconteceu assim: a fiz escutar, em alguma das suas viagens a Itália, mas foi tocando violão, ela se encantou com a melodia, me lembro muito bem... talvez pensávamos em fazer uma versão em português, mas aí eu falei a ela que faria esse álbum de covers italianos famosos, e disse que gravaria E penso a te, e a fiz ouvir a base que tínhamos feito para a música e ela disse: "Eu quero cantar com você, senão a gravarei no meu próximo disco" (risos). Eu disse "óbvio, claro". E nós também já fizemos tantos duetos...eu digo que nossas vozes combinam muito...

Sim... se enlaçam muito muito bem...Bom, vamos logo escutar E penso a Te, na versão de Chiara Civello.

(...)

E penso a Te, uma canção linda de Lucio Battisti, acompanhada de uma fantástica voz. Falávamos de Canzoni: um álbum cheio de colaborações, cover, e duetos, grandes nomes de fora da Itália...porque você viaja muitíssimo, se não me engano você retornou antes do Natal, de uma viagem do Brasil. Como faz para viajar tanto?

Olha, na verdade, passei muito tempo no Brasil porque ali tive várias oportunidades, belíssimas, onde vou retornar para apresentar o disco, e por muitos anos minha realidade foi Nova York, e tento deixar ativo este triangulo geográfico, porque é importante para mim ter esse contato com vários países, pessoas diversas, me enriquece, porque sou uma pessoa muito curiosa, muito vivaz (risos)

Escuta, mas como é ser uma jazzista, uma cantora jazz na Itália?

Olha, eu não faço esse tipo de reflexão e eu, por natureza, não me prendo a rótulos, a definições, eu na vida faço muitas experiências, não ergo bandeiras, sempre me senti livre em tudo que faço, mas estilisticamente tenho o jazz e também o pop. Na verdade este disco flerta com o northest soul, outro tipo de jazz, bossa nova, e representa tudo que vivi. Eu acredito muito que essa maneira pessoal de interpretar as músicas que se ama é a melhor porque é a mais sincera, real, e coloca no universo essa maneira realmente tua.

E seguramente esse senso de liberdade estava aberto nessas tuas viagens pelo mundo.

Sim, com certeza, muito importante

Também se relacionar com públicos diferentes do italiano...

Certo, tudo faz crescer muito, porque se percebe como a música é vivida nos outros países. Infelizmente, na Itália, a musica foi resumida a um fenômeno muito televisivo. Eu acho que não tem um culpado, acho que se perdeu o hábito de se procurar as coisas belas, de assistir ao vivo, de participar do desenvolvimento criativo de um artista, mas não tem um responsável. Eu acredito que um italiano médio não convive com a música como um brasileiro ou norte-americano médio. Se você vai ao Brasil você vê que o brasileiro vive, tem uma participação na musica, e nas coisas novas que lançam são belíssimas, viscerais. Tantos trajetos criativos de tantos artistas e cantores. Aqui a maioria fez fama através da TV, exceto os grandes. E esse tipo de dinâmica é que falta. Por isso viajo tanto.

É, aqui estamos parados, porque temos muitos artistas feitos pela televisão, que sim, vende muito, mas um álbum, mas depois disso, as pessoas perguntam: mas de qual reality era esse cantor... tem uma confusão grande. E sim, tem os artistas de verdade, que as vezes não tem vez aqui. Ao invés você disse que no Brasil o público é muito ativo

Não é uma critica que eu estou fazendo, é um discurso cultural. Creio que na Itália a pessoa tem uma distância da música. No Brasil as pessoas já a tem no DNA, é maravilhoso de ver, tenho tantos amigos que me seguem, grupos que sabem mais da minha vida do que eu mesma. (risos). Até coisas que eu não sabia, acham matérias desconhecidas, é maravilhoso, estou falando por exemplo do Stesa sul Sofà ( :) ), que é não só um fã clube, mas uma fonte biográfica!



Até você vai atrás de informações de você mesma! (risos) 

Tantas vezes! (risos)  Elas acharam uma cena de um filme, que eu fiz quando tinha 13 anos, de verdade!

Ah vou perguntar a você sobre isso, agora vamos ouvir Va bene, va bene cosi, ela é Chiara Civello.

(Toca Con una rosa)

Con una Rosa ela é Chiara Civello. Vinicio Caposella tem um lugar especial no meu coração, imagino que no seu também, é de uma sonoridade, é um grande.

Sim, com certeza...ah que pena você queria ouvir Va Bene va bene cosi... 

Não, tudo bem, estou fazendo uma propaganda e todos aqueles que querem ouvir a sua versão de Va bene cosi, de Vasco Rossi, vão ir correndo comprar seu CD, correndo mesmo.

Ah como você é estrategista! (risos)

Ah sim, queremos estratégias (risos). Queremos as datas, mas você me disse que ainda estão organizando o turnê.

Bom, a turnê estamos organizando, um período que vai de setembro em diante, mas teremos algumas apresentações, não sei ainda dizer os dias precisamente.

Ah sim, sem agenda não se pode falar nada, mas tudo se pode encontrar na sua pagina oficial do Facebook.

Sim que é Chiara Civello Official, comunicaremos todas as datas através do facebook, que está sempre muito ativo, com datas, promoções, hashtags, coisas interessantes.

E entre isso eu soube que na sua pagina tem um “concurso” muito interessante, muito fofo, que vai até 30 de maio, se não me engano, que se pode mandar uma foto com o CD numa paisagem do lugar que mora.

Ou pode ser numa paisagem bela, que a pessoa goste...

E se participa desse concurso...

Sim, nos países que o álbum ainda não chegou pode-se tirar a foto com #chiaracivello #canzoni, em uma paisagem bonita, e no álbum da minha pagina já tem várias fotos muito lindas, por exemplo, #chiaracivello no Cristo Redentor, de Rosilene, e passando, vemos outras, creio que essa foto é em um museu em Barcelona, e esse outro em Lisboa. E provavelmente faremos assim: quem já tem o disco receberá uma foto com autógrafo e quem não tem receberá um CD...

Sim, são fotos muito bonitas

Sim são fotos muito fofas!

Esta outra foto de Bianca em uma paisagem belíssima, com o CD e sempre tu em pé na foto (risos) muito linda

Obrigada!

E uma coisa que percebo que está se perdendo é esse requinte do álbum, desde a capa, até o encarte, porque agora se vende o single em formato digital, e tem gente que não se importa, mas não, isso tudo conta muito...

Tudo é importante, tudo ajuda e contribui.

Escuta, quem foi o fotógrafo da foto de capa?

Essa vez eu chamei um grande fotógrafo, de cinema, que é Fabio Lovino, que embarcou comigo na missão de não fazer uma coisa fashion, e elaboramos um conceito que foi inspirado, no filme Metti una sera a cena, foi quase um remake.



Sim, é uma linda capa, muito elegante, e agora, quando você falou sobre o fotógrafo de cinema, lembrei do filme que você comentou (risos). Eu ia falar sobre cinema, sobre trilhas sonoras de filmes, e ai descobri que você já atuou em um filme!

(risos) Eu fiz apenas uma cena, e foi muito engraçada, porque era a cena de uma adolescente que fuma pela primeira vez (risos)

E você fuma?

Não...não, sou uma fumante social, quando tenho companhias, um cigarro e tal... e era perfeito porque eu também nunca tinha fumado aos 12 anos, então foi como uma cena real mesmo (risos)



Bem, e trilha sonora de filmes, você gosta? Suas músicas cabem muito bem em trilhas de filmes.

Sim, tem muito cinema dentro deste disco. Eu e Nicola somo apaixonados por cinema, por exemplo, Metti una sera a cena, como eu recém falei, também trilhas de Rita Pavone, Bacaloff, Milliacci, que é Che me importa del mondo, que é a trilha do filme La noia, onde tem uma cena belíssima de Catherine Spaak, que dançava sob uma vista maravilhosa, é de 1964 acho, é cantada na versão em espanhol. E tem tantas outras coisas que representam o cinema italiano.

Sim, é importante, gostou do ultimo filme que assistiu?

O último que assisti não é recente, é de 65, espetacular, com Stefania Sandrelli, que é Io La conoscevo bene, que é belíssimo, tem muitas musicas italianas, não somente, tem uma belíssima canção de Sergio Endrigo, Mani bucate, a historia é muito triste, mas é um grande filme.

E algum outro mais recente, no cinema?

Eu vi todos os filmes do Oscar, gostei muito de Clube de Compras Dallas, O lobo de Wall Street, gostei de vários.

E o Oscar que a Itália ganhou, concorda ou não? (melhor filme estrangeiro)

Eu sou absolutamente a favor, porque é muito importante para a Italia, penso que Sorrentino (Paolo Sorrentino) fez belos filmes, o meu preferido é o primeiro que é maravilhoso, que se lembro se chama L ´uomo in più (2001), muito bonito, sim e como não ser a favor de um Oscar do próprio país? 

Eu também, mas sabe que passamos vários dias debatendo e vários ouvintes eram contra... pra mim foi um belo filme, não o melhor, mas... mas se um dia: Chiara Civello e Oscar de melhor canção, quem você agradeceria? “E o Oscar vai para Chiara Civello!”

(risos) Eu não sou muito boa com esses improvisos, mas certamente agradeceria a todos que tivessem me ajudado naquela canção, pessoas que estavam comigo em momentos importantes da minha vida. Obviamente minha família, minha nonna Bianca que me introduziu à música, a lista seria longa, mas eu não faria aqueles discursos longos, melosos e dramáticos... eu não...

Disse um professor hoje que essa nostalgia, faz parte da mente dos italianos, porque há tantas músicas que falam dela.

Olha, eu sou muito romântica, sentimental, e às vezes muito emocional, as características italianas eu tenho todas. Neste disco, por exemplo com Nicola Conte, nós fizemos um tributo, que não dependia de “gritos”, de pressão da voz, em resumo, é meio que ao contrário da tendência do típico canto italiano, das músicas italianas, e essa tendência ao melodrama eu a tenho naturalmente, mas, neste disco, nós o fizemos aos “sussuros”.

Agora ouviremos uma canção que Chiara resgatou, se não me engano, do início dos anos 2000....

[Mentre tutte scorre]

Chiara Civello, esse disco é todo para descobrir! Então, andem, corram para comprar e ouvir e depois façam a foto com #canzoni #chiaracivello... Bom Chiara, teus contatos, teu site:

Chiaracivello.com, Chiara Civello Official

Ali vocês encontraram as datas do tour e apresentações, e nos avise também quando estará se apresentando em Roma.. Te agradeço por estar com nós. Agora o último favor que te peço, Chiara, se torne a DJ e escolha a última música que iremos ouvir aqui...

A canção que quero ouvir agora é um tributo a um dos grandes, Sergio Endrigo, Eu, Chiara em dueto com Chico Buarque em Io che amo solo te

Verdadeiramente perfeito...

Obrigada...