quarta-feira, 25 de junho de 2014

Marie Claire Itália: "As canções de Chiara Civello"

As canções de Chiara Civello
Entrevista com a cantora e compositora romana: "o amor da vida conquisto com um sorvete de lavanda"
Francesca Zaccagnini



Chegou no Brasil por uma desilusão de amor e encontrou alegria e inspiração. Agora, Chiara Civello, cantora e compositora romana, com uma voz sensual que mistura jazz e soul à bossa nova e que encantou platéias do mundo todo, volta para a Itália com Canzoni, seu primeiro disco totalmente de intérprete, no qual reconta alguns clássicos da música italiana. 

Como nasceu Canzoni?
Depois de quatro álbuns de cantora e compositora quis explorar algo diferente em mim e senti a necessidade forte de fazer um tributo à música italiana, logo eu, que passei tanto tempo fora do meu país. Queria externalizar todo o som que absorvi em todos esses anos que morei na América e depois no Brasil, dentro desse disco que inclui músicas dos anos sessenta até hoje, com Capossela, Vasco Rossi, Subsonica, Negramaro. Não queria fazer uma operação nostálgica mas uma revisitação internacional da música italiana

Com qual canção começou o álbum?
Com Incantevole, que é também o primeiro single. Porque no início queríamos fazer só grandes clássicos mas depois decidimos torná-lo mais contemporâneo e então começamos a escolha dos mais jovens. E junto a Nicola Conte essa de Subsonica foi a primeira que fizemos de fato "nossa".

Qual canção ficou de fora por um motivo ou outro?
Foram muitas. Mas como me sinto satisfeita com esse trabalho, do qual gosto de tudo, da seleção aos arranjos, não excluo a possibilidade de haver um volume 2. Então acabarão lá, cedo ou tarde. 

Entre os jovens que escolheu "recantar" não há nenhuma mulher. Como assim?
Sabe que não notei? Mas, desculpe, quais são as mulheres autoras de sucesso atualmente? Ando vivendo muito fora...

Ah, tem Elisa, Laura Pausini, Georgia, só para mencionar algumas. Não só: nunca colaboraste com uma mulher italiana, mesmo que no exterior tenha duetado com muitos artistas...
Mas bem, tem razão, absurdo...ah! Não! Escrevi uma canção para Paola Turci! "Cuore distratto", belíssima, gosto muito.

O que você encontrou no Brasil que não achou em nenhum outro lugar?
A alegria, a eletricidade. São, como diz a grande poetisa Patrizia Cavalli, profissionais da alegria. Me ensinaram muito, partindo de como é importante colaborar, para estimular-se e criar. 

O que sente falta do Rio quando está aqui na Itália?
Sinto falta dos amigos, do mar carioca, sinto falta de correr ao redor da Lagoa, deixando rolar os pensamentos. 

Que sugestão de local daria para quem vai ao Brasil?
A Prainha, uma bela praia quase fora da cidade. Ande lá pela manha, onde estão os surfistas, tome café em um dos quiosques. Depois vá ouvir os shows no Circo Voador, na Lapa. E depois São Paulo, onde se come muito bem e às praias de Salvador, absolutamente incríveis. 

E de Nova York, onde tem uma casa e viveu por muito tempo?
De NY sinto falta da variedade de estímulos, dos shows à moda. Ali encontro as botiques mas também os brindes vintage, pelos quais sou apaixonada. Como pode notar da capa [do CD]: o vestido não é desenhado mas refeito em Santoria Farani de Roma, com base numa das roupas usadas por Florinda Bolkan em Metti una sera a cena. Não existia uma foto de frente então tivemos que inventar.

Por que aquele vestido?
Porque me interessava aquela estética, elegância incrível e muito sexy, que é também extremamente moderna do cinema da época, de La decima vittima a Metti una sera a cena, que é um dos meus filmes preferidos. Uma moda que valorizava tanto o corpo feminino. 

Tem uma noite de jantar: quem chamaria? 
Todos! Certamente uma "presa" em potencial mas também tantos amigos, mesmo que não se conheçam entre si, para criar um clima diferente porém divertido. 

E o que serviria? 
Certamente sorvete de lavanda. Porque, há muito tempo, vivia em NY e era apaixonada loucamente por um cara. Então o convidei para jantar mas no momento de fazer o menu fiquei perdida e chamei uma amiga para pedir-lhe conselhos. E ela me disse "sorvete de lavanda! Vai até o Dean&Deluca e compra, é infalível". E tinha razão. Funcionou. 

Qual é o segredo para fazer dar certo uma história de amor? 
A alternância entre presença e ausência. Rainer Maria Rilke disse que a receita para um matrimônio duradouro é saber recriar o mecanismo de separação e reconciliação, entre distância e encontro, infinitamente. Estar junto continuamente é prejudicial, até na convivência. É preciso estar comprometido com a própria vida para criar um amor que dure para sempre.

Se não fosse uma cantora?
Desde criança adorava o cheiro de gasolina e cheguei a perguntar como fazia para ter um posto de gasolina! Não sei, talvez iria querer ser atriz. Sim, teria gostado.

E agora, que perfume gosta?
Tenho três entre os quais oscilo: um é Incenso di Comme des Garçons, depois é Melocule 01 e Melograno di Santa Maria Novella. 

Próximos projetos?
Em 15 de julho iniciarei as datas ao vivo e depois no outono começa a turnê de fato. Que me levará ao redor do mundo novamente. 

E agora?
Ah, agora estou um pouco aqui!