segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Entre os magníficos treze de Uéffilo, Chiara Civello". Artigo do GioiaDelColle.*

por Dalila Bellacicco, junho 2009



Se entregar no silêncio de um acorde, deixar que as palavras fluam do coração, ainda vinculadas às emoções que as geraram, cria uma insólita e rara intimidade. A voz quente e sedutora de Chiara Civello não tem defeitos: entontece, inebria, encanta...

Um antigo, mágico poder vibra de suas cordas vocais, fugazes estrelas de sabedoria se acendem incrustadas de jade e esmeralda do seu olhar, chega a ser prodígio, magia. No silêncio intenso da espera contida nas músicas de “The Space Between”, uma profética intuição: um espaço visto como oportunidade, de escolha e de dimensão não somente física para exprimir e dilatar-se em um pensamento, de uma ausência, de palavras não ditas, de um mantra que obsessivamente retorna à mente.

Entre suas musas: o Amor com seu alvorecer, seu entardecer, a poesia de um encontro, de um adeus partilhado, o calor de uma ardente paixão se apagar sem um porquê, fragmentos de alma espalhados nos novas e inéditas canções propostas no concerto em Uèffilo. Em italiano, em inglês, tocando uma nota no violão ou no piano, é um oferecer-se contínuo, total que possui e deixa possuir e gera uma emoção autêntica em uma onda de partenogênese coletiva.

Quando não canta, encanta brincando com sua banda italiana: Marco Siniscalco no baixo, Fabio Zeppetella na guitarra, Fabrizio Fratepietro na bateria, contagiados pela sua aura, brilham, mas não de luz refletida. São como um eclipse, relutantes a um talento magnético, somente quando sopra sobre eles uma mágica virtual e se dissolve para dialogar com o piano, em que confia suas inquietações de mulher.

Na música hesita um eco de tango argentino, se desvanece e se dissolve toda magia de um canto de amor. Das dezoito músicas propostas no concerto, quatro inéditas, em produção, além de Trouble, escrita com Burt Bacharach já apresentada no Last Quarter Moon, multiétnica melodia, contagiada por blues, soul, funk, pop e jazz com toques brasileiros e bossa nova, distribuído pela Verve, casa discográfica de Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Charlie Parker, Duke Ellington e pela primeira vez para uma italiana.



Uma criatividade toda mediterrânea em Isola, concebida com Rocco Papaleo no entardecer de Stromboli. Seagulls nasce na praia de Brooklyn, a poucos passos de sua casa e Night vê a luz na magia de uma noite. Mediterrâneo também pelo seu DNA, com a nonna Bianca di Martina Franca (foi da avó o piano em que Chiara costurou suas primeiras notas), mãe de Bari e pai siciliano. Chiara nasceu em Roma em 15 de junho de 1975, estuda jazz e com 16 anos consegue uma bolsa de estudos para a Berklee College of Music de Boston, não retorna a casa e se transfere para NY onde debuta com uma produção de Russ Titelman. Foi ele que a levou até Santa Mônica encontrar com Bacharach, um encontro kármico onde se aprendeu tanto, destinado a mudar sua vida.

Se as pedras de Uèffilo pudessem contar sobre suas músicas, escutaríamos o palpitar de um coração, o vibrante respiro dos ventos, os hesitantes acordes de violões à deriva de uma tempestade que abala a percussão, e a última nota, onde é “doce naufragar” na profundidade do baixo e da voz de Chiara, a magia que dá as pedras de Uèffilo um pretexto de vida. 


* Gioia del Colle é uma província italiana localizada 360 metros acima do nível do mar.  Uéffilo é um castelo ao mesmo tempo galeria de arte, cantina e palco para festivais de jazz.