terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Entrevista para revista do Novo México, em 2008

Após conhecer o Brasil, em 2008, a Chiara voltou para Nova Iorque e já tinha uma apresentação marcada no Santa Fe Jazz Festival, no Novo México. Antes da apresentação, em 3 de outubro de 2008, deu uma entrevista muito legal para o Santa Fe New Mexican, que fazia a cobertura do evento. Falou de música brasileira, suas inspirações e expectativas sobre a carreira.

Abaixo, a tradução do artigo feita pelo SOFA'. Para ilustrar, algumas fotos da turnê do The Space Between.

SIMPLESMENTE BEL CANTO
por Paul Weideman

Chiara Civello é uma mulher do mundo. A cantora italiana, que se apresenta em Vanessie na sexta, 3 de outubro, junto com o Friends of Santa Fe Jazz, estudou jazz na sua cidade natal, Roma, e começou sua carreira se apresentando com Mario Raja Big Bang e Roberto Gatto e os Noisemakers (num tempo que ela descreve "como antes de eu ter nascido...muito tempo atrás").

No começo dos anos 90 ela se mudou para Boston numa bolsa de estudos para a Berklee College of Music; dois anos depois de se formar fixou-se em Nova York, onde focou sua atenção no estudo da música latina e brasileira enquanto explorava seu amor pelo jazz, rock e pop. Ela se apresentou como backing vocal para o cantor e compositor James Taylor e para o cantor de jazz John Pizzarelli, e contribuiu para álbuns de Basya Schechter (líder do grupo de folk Judeu Pharaoh's Daughter) e para o guitarrista latino Juis Luis Guerra, bem como para um tributo à Marvin Gaye feito pelo tecladista Jason Miles.

Em 2005, a Verve lançou o primeiro álbum solo de Chiara, Last Quarter Moon - música que é assumidamente romântica e repleta de vocais luxuosos, atléticos. Seu segundo disco, The Space Between, é, em suas próprias palavras, sobre "o espaço entre as notas, o espaço entre as palavras, o espaço entre eu e você, eu e meu passado, eu eu meu futuro, e todos os lugares entre que hoje em dia são tão difíceis de parar e pensar sobre eles". Ela adiciona, "canções são como trens, eles te levam de um lugar para o outro. Essa coleção de músicas, eu acho, é meu trem para casa".

Civello falou com o Pasatiempo de sua atual casa, no Brooklyn.

Pasatiempo: Você compôs a maioria das músicas em seus dois álbuns. Qual é o seu processo de composição? Você compõe na guitarra ou no piano?

Chiara: Eu componho em ambos. Às vezes pego a guiarra, às vezes vou direto ao piano. Depende. É um processo casual.

Pasa: Sua voz é tão linda - seu tom e inflexões. É natural?

Chiara: Sim, é definitivamente natural. Começou com um pouco de treinamento e continuou com bastante "destreino".





Pasa: Para levá-la (a voz) aonde você queria?

Chiara: Exatamente. Esquecendo um monte de coisas acadêmicas.

Pasa: Você cantava quando era criança em Roma?

Chiara: Eu sempre cantei, sim, porque eu gostava. Mas nunca pensei em virar cantora até que a música me escolheu, sabe?

Pasa: Quem são seus heróis? Quem você amou escutar com o passar dos anos?

Chiara: Eu passei por fases realmente muito diversas: a fase Nat King Cole, a fase Chet Baket, a fase Shirley Horn, a fase Julie London e a fase Peggy lee. Agora estou um pouco na fase Dusty Springfield.

Pasa: E Astrud Gilberto?

Civello: Eu amo Astrud. O que eu adoro é o mundo sônico que construíram ao redor dela nos anos '60. Ela não era uma cantora tão boa assim, sabe, mas ela era inacreditável em prestar a inspiração certa para aquela época, quando a bossa nova se tornou mais conhecida nos Estados Unidos. Eu acabei de voltar do Brasil e, se você perguntar pra eles, eles não se sentem realmente representados pela Astrud Gilberto. Eles se sentem mais representados por uma vocalista como Elis Regina, por exemplo.

Pasa: Suas músicas tem um sentimento fortemente romântico. Podemos pensar no que é antiquado e no que é moderno, mas algumas coisas, talvez como esse tipo de canto e música, são alheias ao tempo.


Chiara: Sim, eu concordo. Eu não ligo muito para moda ou moda musical. Eu gosto de tudo o que é bom e real. Uma música que se sustenta apenas com um violão é um milagre para mim, muito mais do que aquela que precisa de muita aparelhagem. A música além do tempo que eu amo é a música que as pessoas nunca se cansam de escutar porque são quatro ou cinco seres humanos interagindo no palco ou no estúdio, e isso é verdadeiro.

Pasa: Você pode descrever sua própria evolução como cantora e como artista?

Chiara: É difícil descrever algo quando você está dentro dele. Eu definitivamente estar indo a lugares melhores todos os dias. Ultimamente eu descobri a beleza da colaboração, co-compor com pessoas maravilhosas que eu encontro nas minhas viagens, então eu me sinto inspirada em poder achar um lugar comum e desenvolver uma ideia juntos. Aonde estou indo é que eu quero me tornar uma cantora melhor e uma pianista melhor e tocar melhor o violão e escrever canções melhores.


Pasa: Já se foram dois anos, eu acho, desde que você gravou The Space Between. Está trabalhando em algum novo projeto?

Chiara: Se passou exatamente um ano, e infelizmente não saiu ainda nos EUA. Estou trabalhando num novo projeto e escrevendo novas canções. Eu amo fazer isso.

Pasa: Seus interesses também incluem música latina e brasileira, mas você tem algum carinho por trabalhos mais abstratos como as coisas que Lauria Anderson e Meredith Monk, e até Luciana Souza, tem feito?


Chiara: Eu fiz isso, no passado. Eu experimentei com isso. Mas gosto do poder de uma melodia simples, e eu gosto do poder de uma melodia que pode ser óbvia, mas por alguma razão não o é. É lindo fazer algo com o qual as pessoas, de fato, se conectam rapidamente, sem ter que se esforçar intelectualmente. Musica é agradável, e é algo que leva você para longe.

Pasa: Quem você traz com você para Santa Fé?

Chiara: Três dos meus mais queridos músicos. Yusuke Yamamoto do Japão toca a bateria, vibrafone e a flauta. Depois um guitarrista brasileiro, seu nome é Guilherme Monteiro. E então trago um ótimo baixista cujo nome é Alan Hampton.

Pasa: Você vai levar seu violão também?

Chiara: Claro. Meu violão é como meu braço.