segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Artigo sobre a Chiara Civello, na época do "The Space Between".

Após lançar seu segundo álbum de estúdio, parte da divulgação envolveu uma entrevista e apresentação ao vivo para o canal de TV especializado em música, Kataweb. O artigo que acompanhou a divulgação foi muito bem escrito, expressa um outro lado da carreira, de quando ela ainda morava nos EUA, e vale muito a pena conferir (a tradução é livre, feita pelo SOFA', com o mínimo de licença poética):



Notas de veludo
por Katia Riccardi

Quando Chiara Civello fala, move as mãos. Parece acariciar o ar, com graça, move-se como se fosse uma onda de som. Tangível, maleável. Quando canta a impressão é a mesma. As notas são veludo onde a voz de Civello desliza lentamente, elegantemente, calma. Um vestido de noite, um vestígio leve de um perfume transparente. Fácil imaginá-la com os cabelos soltos em palcos pequenos, a sussurrar melodias e olhando o público, de perto, nos olhos.

Nascida em Roma em 1975, Chiara deu seus primeiros passos como mucisista nos Estados Unidos. Mas do nosso país conserva a visão, as lembranças, as raízes. "Cresci andando através da música, me tornei grande tocando o piano da minha avó Bianca", conta. E, assim como nos filmes, ganhou uma bolsa estudantil para a prestigiosa Escola de Música de Berklee, em Boston. E partiu. Primeiro em Boston, depois morando em Nova Iorque, onde está agora.



A Itália a observava de longe e com atenção enquanto o fascínio da sua música conquistava, em pouco tempo, a América, e Chiara Civello se tornava a primeira artista italiana da história a firmar contrato com
a gravadora americana Verve, a mesma de Luis Armstrong, ou de Ella Fitzgerald. E eco de seu sucesso no nosso país chegou quando Tony Bennett a definiu como "a melhor cantora de sua geração", ou quando Cindy Lauper descreveu seu álbum de estréia, "Last Quarter Moon", como "fascinante e fantástico" e Burt Bacharach declarou que Chiara "tem todas as cartas para se tornar uma superstar". Tanto que colaborou em uma canção com ela, "Trouble".

"The Space Between", seu segundo álbum, hoje mostra uma artista madura, que cresceu o bastante fora de casa para ter aprendido a apreciar o espaço entre, e a amar o silêncio que que ele proporciona. Para os americanos a Chiara tem um fascínio exótico. A magia é perceber que com os italianos acontece o mesmo. E como não pertence a ninguém, Chiara está livre para se expressar sem enigmas. Através de uma música que mistura a sonoridade do jazz, melodia latina, que funde ritmos brasileiros e letras minimalistas de pequenas poesias, lembranças, imagens.


"As canções são como trens, te levam de um lugar para o outro", contou, quando nos encontramos para registrá-la ao vivo. Tão disponível quanto podem ser os estrangeiros, chegou com seu violão, sem maquiagem. Pronta a dar tudo, acostumada a tocar para poucos, para ninguém, para si mesma. Como vem diante de muitos, em uma volta ao redor de um mundo o qual sempre amou assistir. "Esse conjunto de canções é meu trem de volta para casa".

A sua Nova Iorque, cidade que escolheu, por hora, para morar, é agitada, mal-humorada, criativa. E é difícil imaginar como essa garota tranquila e transparente possa ter encontrado sua casa no meio de todo esse frenesi. "Eu tento construir meu espaço. Eu preciso dele. Fecho a porta, escuto, estudo, faço música."


A matéria veio acompanhada de um vídeo curto, onde a Chiara fala um pouco sobre o álbum recém lançado, a importância do silêncio nas canções, e canta um pedaço de Un passo dopo L'altro.