domingo, 5 de fevereiro de 2012

Last Quarter Moon (2005)

"Esse é um primeiro álbum? Uma primeira tentativa? Sim, é o primeiro passo nesse mundo, mas é o primeiro passo de uma pessoa que já vem de um longo caminho." - Chiara Civello
Em 2004, formada no curso de Voz em Berklee, Chiara Civello já era um nome conhecido na noite do jazz nova-iorquino. Com projetos realizados junto à importantes artistas da música italiana (como Roberto Gatto e Doug Johnson) e parcerias com diversos músicos de toda parte do mundo, de Cidinho Teixeira a Mark Stern, seu nome já se consolidava em clubes como o "Living Room", onde se apresentava em quarteto com o pianista Alain Mallet, baixista John Lockwood e o baterista Jamey Haddad.

Com os companheiros de banda da noite de NY.
Entre uma apresentação e outra, Chiara aprendia cada vez mais sobre os estilos que tinha descoberto em Berklee. Aprendendo a cantar músicas em português e espanhol, já era fã de Bossa Nova, Caetano Veloso e Elis Regina. Também começou seu trabalho como compositora nesta época, escrevendo uma canção que tratava de um tema que viria a ser frequente em sua carreira: o amor em sua forma mais melancólica.

Na sua jornada para esquecer o formalismo de Berklee e se reinventar, foi convidada pelos seus companheiros de banda que, à época, trabalhavam com Paul Simon, do Simon & Garfunkel, dupla de enorme sucesso internacional. Foi lá que conheceu o produtor que iria alavancar sua carreira dentro e fora do país, inclusive dando uma de fotógrafo (a foto título do blog foi tirada por ele!).

Russ Titelman é americano, produtor musical e ganhador de diversos Grammys. No dia do ensaio de Paul Simon recebeu das mãos de Chiara uma demo que continha sua única música de autoria própria, "Parole Incerte". No dia seguinte, insistiu que a cantora havia nascido para compor e a instigou a produzir em inglês. Apresentou-a à gravadora Verve, que nunca havia contratado uma cantora italiana antes. Resultado: cerca de seis meses depois de entregar sua demo a Russ, Chiara firmava contrato com a Verve e garantia o lançamento de um álbum.

Passou, então, os meses subsequentes compondo e pensando em músicos para participar das gravações. Dentre os escolhidos, além dos membros do seu quarteto, um brasileiro: Paulo Braga. "Eu não poderia cantar música brasileira sem o baterista que Elis Regina e Milton Nascimento tinham".

Site da BMI anunciando as gravações do Last Quarter Moon.
 Com quase todas as faixas prontas, surgiu o convite, feito através de Russ, para uma parceria entre Chiara e a "legenda" da música mundial Burt Bacharach (quem não conhece "Raindrops Keep Falling on My Head"?). Foi, então, à Los Angeles com uma ideia para uma melodia, e em três dias fizeram a canção "Night", uma das poucas verdadeiramente otimistas e felizes de sua carreira.

Chiara e Burt Bacharach.


Para o título, expressou seu momento de renovação, de início de um ciclo, externalizando a idea através da metáfora inspirada nas fases da lua:

"People rarely appeal to the last quarter of the moon, it always evokes a crisis in consciousness; there's a struggle between the desire for renewal and the things from the past that stand in the way."

Lançado em 2005, Last Quarter Moon imediatamente prendeu a atenção da crítica especializada: JazzTimes e Billboard elogiaram a inovação e influências diversas presentes nas músicas originais e nos covers escolhidos, que já demonstravam uma tendência à brasilidade. Rendeu elogios, inclusive, da cantora Cindy Lauper, que se impressionou com a voz e as composições de Chiara ("HOLY COW! Did she really write that?", falou, sobre "The Wrong Goodbye").

O Japão, país com histórico de amor pela Bossa Nova e pelo Jazz, foi terreno fértil para a divulgação do álbum, com direito à turnê e à Edição Especial lançada exclusivamente lá, e que continha duas novidades: a versão estendida de "Sambaroma" e "Beijo Partido", sucesso brasileiro na voz de Milton Nascimento.

Capa da edição especial.
Não é só no título que se sente a vontade de renascimento, de reciclagem e crescimento emocional. Apesar da beleza da tristeza e nostalgia dominarem as composições do álbum, canções como "Ora", "Nature Song", "Here is Everything" e a própria "Night" tratam do fim como uma fase, e até uma coisa natural, transmitindo segurança pela melancolia e sinceridade de ideias.

Com este primeiro passo, o longo caminho percorrido pela italiana passou a ser observado pelo mundo do jazz com olhos de expectativa. Como disse o JazzTimes, "com Last Quarter Moon, Civello deu um primeiro passo digno de crédito. Ela ainda não compartilhou suas influências, mas tem as qualidades essenciais de uma notável cantora e compositora nos moldes do pop-jazz".

"É como um balão de ar quente: para poder voar você tem que jogar fora os sacos de areia. Eu quero ser o mais leve possível. Leve como uma pluma."

Veja também:

Review do AllMusicGuide
Review do JazzTimes