sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Cantar o amor e suas formas em Sanremo ou no Scala*

Mesmo que possam parecer distantes, a música pop e a ópera lírica possuem ao menos uma coisa em comum: o sentimento do amor. Seja no palco de Ariston ou em outro teatro, as canções podem sempre descrever o estado da alma de um apaixonado. As mesmas emoções despertam, mesmo depois de séculos, Violetta** e Chiara Civello.

Não tenho televisão em casa e não acompanhei Sanremo. Entretanto, não sou um dos que esnoba o festival por causa dos tipos de música; a música ou é bonita ou não e também o evento sanremense tem sua razão de ser. Este ano, porém, decidi ler alguns comentários de alguns usuários que sigo no Twitter. Entre os mais entusiasmados estavam os comentários de Nazzareno Carusi, excelente pianista e musicista, o que me fez ter vontade de escutar algumas das canções na internet.

Na maior parte dos casos encontrei textos fracos, cheios de “lugar comum”, digno do livro Manual de Conversação, de Andrea Ballarini, para não falar dos aspectos musicais: acordes habituais, arranjos comuns, melodias que combinariam com qualquer letra. Um espetáculo no geral chato, não direi nada de novo para também não cair em clichês. Mas a música, também aquelas típicas do festival, quer goste ou não, há suas raízes no “lied” (que significa “somente canção’), forma de origem muito antiga baseada no canto acompanhado muitas vezes do piano, que vê o seu apogeu social e cultural no Romantismo. No entanto, entre o “lied” e as músicas pop podemos encontrar algumas afinidades temáticas, por exemplo, o amor. (...)

Chiara Civello, com sua canção Al posto del mondo, nos mostrou um pouco sobre essa semelhança. Inevitável não pensar na ária de Violetta, no final do primeiro ato de La Traviata, que assim como outras canções, expressa a grande novidade e o florescer do desejo humano de se deparar com um encontro inesperado. Violetta, que define a vontade de muitos, sobre a possibilidade de um amor verdadeiro, canta: ““Oh gioia, ch’io non conobbi, essere amata amando! Lui che nuova febbre accese destandomi l’amor A quell’amor che è palpito dell’universo intero, Misterioso, altero, croce e delizia al cor.” Qualquer outro comentário seria supérfluo, escutar a ária na voz da soprano Cinzia Forte me parece um dever.

* Teatro Alla Scala, Milão, Itália – Casa de grandes óperas e ballet

** Da ópera La Traviata, de Giuseppe Verdi

Di Mario Leone

In Cultura, Degni di nota

23 Feb 2012