segunda-feira, 19 de março de 2012

"Chiara Civello, rainha de uma noite que deixa intacta a vontade de ouví-la."

 Artigo de 2008, após um show da Chiara realizado a céu aberto, na Itália, com os amigos e famosos músicos dos Estados Unidos, Tino Derado e Jamey Haddad.



A sua voz se mescla ao piano, a percussão e o acordeão para tornar-se um instrumento musical.

Chiara Civello, hóspede do Note di notte, no Gli aromi, não deixa espaço o contexto. O silêncio numa noite em um campo aberto sob um céu repleto de estrelas, harmoniza-se com um canto jazz sem igual no panorama musical de hoje. Guiada pela noite, que atravessa quase todas as letras de suas canções, Chiara navega para sua ilha, que dá o título a uma de suas músicas preferidas e ao show, e evidencia a sua proximidade com as sonoridades latinas e brasileiras, acompanhada de Tino Derado no piano e acordeão e de Jamey Haddad na bateria e percussão. Sobre eles e sobre a amizade que há anos a liga a dois músicos extraordinários, fala em italiano. Os apresenta, agradece a eles e acrescenta: "A coisa mais engraçada é que eles, do que eu acabei de dizer, não entenderam uma palavra". Entre os sorrisos e aplausos dos espectadores, Chiara sussurra um reconfortante "Isso é bom" para Tino e Jamey.

"De Saint Louis, em Roma, até a Berklee College of Music, aprendi tanto e tanto esqueci", intercala a artista entre uma canção e outra. E sua memória se revela, em ambos em casos, como uma aliada preciosa de seu talento inerente para o canto, sancionada por uma carreira em constante ascensão e marcada por uma longa experiência ao vivo e diversas gravações, duas em especial: Last Quarter Moon, produzida por Russ Titelman e gravada com a Verve - foi a primeira italiana a firmar contrato com a prestigiosa etiqueta de Louis Armstrong e Ella Fitzgerald - e The Space Between, produzida por Steve Addabbo e gravada pela Universal Music.

Aplaudida por milhares de pessoas em um silêncio religioso que se seguiu à apresentação, Chiara, 30, não perdeu a simplicidade que marca sua personalidade delicada e modesta, própria de um grande artista. "As canções são como os trens: te levam de um canto para o outro. Esse conjunto de canções - disse Chiara, que se manteve até o fim do show, para não perder contato direto com o público - é meu trem para casa". 





Anuncia as letras, explica os títulos e exalta os momentos vividos para que se misturem com as palavras e os sons no ritmo atemporal do jazz, do blues e de um apanhado de melodias de difícil definição. Notas complexas e espaços vazios cujo único fio condutor é a presença de uma voz forte e quente, que domina os instrumentos que acompanham a alternância entre agudos, graves e sussurros indistinguíveis. Chiara canta suas letras e as explica com gestos elegantes, senhora de um palco que estaria melhor posicionado dentro de um teatro. Mesmo assim, a imagem do campo aberto dá o espaço sem nunca tolher a extensão da vocalista que, às vezes, se refere a locais enfumaçados de Nova Orleans, berço do jazz, como contam os velhos filmes americanos. Assim como a doce "Moon River", um toque de classe na apresentação da artista ao piano, relembra a eterna "Bonequinha de Luxo".

Do italiano para o inglês, e até mesmo no clássico francês "Que sera-t-il des nos amours", dedicada especialmente para seu tio, Chiara não hesita. Seu canto mantém uma musicalidade constante, ritmada durante a noite, magistralmente musicada em "Night", que, para Chiara, "traz um conselho" (afirma, sorrateiramente, sem adicionar nada), e para o público traz a vontade de viver e sonhar. "Como estão? Tudo bem, tudo ok?", pergunta, com um sorriso, abraçando o violão. A resposta é um longo aplauso de aprovação que continua pela a passagem de maracas eletrônicas que Chiara alterna com o canto.

"É a melhor cantora jazz de sua geração", disse Tony Bennet, sobre ela. E se Burt Bacharach a definiu, sobretudo, como uma cantora e compositora extraordinária, Phil Woods não hesitou em exaltar-lhe os dotes de musicista e compositora capaz de improvisar ao piano como poucos. Às saudações do trio seguiram-se aplausos e pedidos de bis que ganharam mais três canções. Chiara Civello cumprimenta tocando "Night" novamente, com calma e sem ansiedade, rainha de uma noite que deixa intacta a vontade de ouví-la.


Franca Antoci